Postagens

Mostrando postagens de 2021

Hotel em Feira de Santana

Tomei o café da manhã do hotel que me hospedara por seis meses, em Feira de Santana. Era um bom café, sucos, com frutas da região, coalhada, etc. Não me esqueço do cheiro do melão caipira, aquele que a raposa saliva ao sentir o aroma de longe. Deixava a tapioca com manteiga da terra para o final, e a saboreava pausadamente, lentamente como eu aprendi com minha sobrinha; ela, mesmo como estudante de medicina, já sabia dos benefícios de se comer pausadamente, prestando atenção aos sabores, como se fosse um ritual religioso. Ela nunca me disse nada sobre isto, porém eu prestei muita atenção nela enquanto almoçava na casa de minha irmã em Campina Grande, pois foi a última a deixar a mesa. Sabem, muitas vezes não precisamos ouvir nenhum conselho diretamente, o que temos que fazer é prestar atenção aos gestos, aos comportamentos das pessoas e tirar as lições que nos interessam. Desci a escada do primeiro andar para o térreo, passei pela recepção e sai entusiasmado; o sábado me entusiasmava,

Já comia bolacha

No sol causticante de meio dia um vendedor viajante, já cansado, suado e com sede, em algum lugar do sertão¹, arriou sua pesada mala: era um vendedor(às vezes um sírio libanês) de fitas, ros ários, panos de prato, prendedores de cabelo(grampo ou biliro), alfinetes, colchetes, agulhas, novelos de linha para crochê, bicos rendados, etc. Parou em frente a casa de taipa, cuja parte superior da porta holandesa estava aberta, gritou e bateu palmas: “ô de casa”. Alguém respondeu lá dos fundos, talvez do quintal, pelo som que soara distante: “Ô de fora”. Ela, tímida disse: “boa tarde, se é que já é tarde, pela graça de Deus”. “Deus seja louvado", e inclinando-se ligeiramente o vendedor respondeu, tirando o chapéu de palha da cabeça. O vendedor abriu a mala, ofereceu suas mercadorias para a dona da casa, e pediu por favor um copo d'agua. (A dona da casa, que o viajante não sabia o nome, mas como era de costume, a chamou de dona Maria; caso fosse homem, o chamaria de seu José). Ela

Esporte

Nunca fui bom em esportes, futebol, vôlei, basquete, jogos de cartas, etc. Pratiquei quase todos estes mas sem muito apetite. O único esporte que me interessei foi o tênis, que comecei a jogar no Tênis Clube de Feira de Santana. Lá eu tinha um professor que jogava em campeonatos na Ilha de Itaparica, a terra do jornalista e escritor João Ubaldo Ribeiro, e me dava aulas no citado clube. A empresa que eu trabalhava me dera uma licença para usar provisoriamente o clube da forma que me conviesse, e eu o usei jogando tênis. É que morei em um hotel mais de 6 meses naquela cidade. Fiquei muito entusiasmado, comprei raquetes pra mim e para meus filhos. Mas percebi que o tênis era um esporte de gente fresca, de gente que se achava superior às outras pessoas. Um jogador mais adiantado não jogava com iniciantes; eles diziam que iam desaprender, perder o que sabiam. A gota d'agua foi quando jogando em duplas aqui no condomínio: eu perdi uma bola e meu parceiro ficou zangado, apesar de que ele

Luquinhas é um filósofo

Sábado, 11-09-2021, final da tarde Luquinhas estava sentado na cabeceira da mesa da cozinha comendo um sanduíche Bauru, preparado pela Fabia e pela Lu, para rimar. Na realidade o sanduíche dele era customizado, personalizado, porque ele não gosta de tomate e na receita do Bauru tem que ter tomate; então era um misto quente: pão francês, queijo e presunto aquecidos na chapa, como fazem os bares e as padarias aqui de São Paulo. À cada mordida no sanduíche ele fazia algum comentário, porque ele gosta de conversar, e de comer! Terminando de comer ele se dirigiu à Fabia e perguntou: Seu nome é Fabia, certo? A Fabia respondeu: Sim. Aí ele observou: Se seu nome é Fabia, porque chamo você de madrinha? Todos nós rimos muito. Explicações até religiosas, de batismo, foram dadas, mas ele não ficou muito convencido. Aí ele fez mais uma pergunta pra Fabia: Você é irmã de meu pai, certo? Apontando para o Felipe. A Fabia respondeu Sim A pergunta dele fazia todo sentido porque a Fabia é tia dele. Dev

Bicicleta Ergométrica

Aqui nesta região da Grande São Paulo, a qual os corretores imobiliários chamam, por interesses comerciais, de Granja Viana, que fica a quinze minutos da Faria Lima, subestimando o trânsito da Raposo Tavares, não é Granja Viana, porque a Granja Viana era uma fazenda de território menor. Aqui quando não está frio e garoando está chovendo. Então é difícil fazer caminhadas diariamente. Tenho uma bicicleta ergométrica que tem sido minha boa opção para evitar crises no meu nervo ciático, uma dor que não desejo ao pior inimigo (aliás nunca tive um e nem quero nenhum!). Estava vendo a Luciana Gimenez usando sua bicicleta ergométrica, mas que bicicleta! Fui ao Google e verifiquei o preço do equipamento da apresentadora, e aff! Quase vinte mil reais; isto há alguns meses. Deve ser importada e o preço varia com o Dólar. Acho até que nem era igual a dela. Vou ter que levar a minha Caloi a um bicicleteiro, para fazer algumas manutenções, e vai ficar novinha. Como a bicicleta ergométrica não mo

Almoço de Domingo

Almoço de Domingo Aqui, Domingo, é um dia de espaguete, lasanha(como se diz: massa ou pasta), com molho de tomate, queijo parmesão ralado e azeite. Muita gente também faz churrasco e bebe cerveja, que também é bom. Mas, tradicionalmente é um dia que come-se massa, harmonizada com vinho. Isto acontece porque São Paulo tem uma cultura italiana muito forte. Para se ter uma ideia, nas décadas de 20/30 falava-se italiano normalmente nas ruas de São Paulo, de tanto imigrante italiano que havia. Havia também, em menor número, imigrantes de outros países, porém os italianos eram a maioria. Hoje a composição da população é diferente, há gente de todo planeta, é só caminhar pela Av. Paulista pra ver. Os japoneses também pesam muito na população desta cidade; os sírios-libaneses, etc. Passei no supermercado e comprei um vinho chileno, um pedaço de queijo gorgonzola e um pão italiano redondo. Embora um pouco salgado, o queijo gorgonzola é uma delícia. Melhor mesmo é o queijo parmesão em pe

A vila

A vila Esta semana lembrei-me da calma que reinava em Marizópolis quando era uma Vila, das ruas poeirentas e sem nomes que mais pareciam cenas de cidades do faroeste americano; ruas nomeadas e numeradas anos mais tarde por vereadores, quando fora emancipada de Sousa, com nomes de pessoas que conhecêramos e insistentemente ditas fundadoras. Salvo algumas brigas de bêbados, de marido e mulher, era tudo tranqüilo: “você é um corno convencido”, disse alto e em bom som que atravessou a vila como um cometa, de canto a canto, uma mulher pega em flagrante por seu marido, em plena madrugada e tiros disparados para cima, pelo marido, talvez para justificar o “corno convencido”. Meus pais sentavam nas cadeiras de balanço, trançadas por “macarrãozinhos” , cantavam uma das músicas que gostavam:“Emília” de Roberto Silva: Eu quero uma mulher Que saiba lavar e cozinhar E de manhã cedo Me acorde na hora de trabalhar Só existe uma E sem ela eu não vivo em paz Emília, Emília, Emília Eu não posso mais …

Nissei falante

Nissei falante Parte I Nissei, ortopedista, 86 anos, delicada nos gestos e no falar, magra, olhos miúdos e puxados, e o peso nas costas por descender de uma cultura milenar; talvez por isso o corpo tenha arqueado como uma casca de melancia. Fala com segurança, mostrando muita sabedoria. Ela disse, depois de levantar-se para me atender à porta: “entre e sente-se” e deu meia volta ao redor da mesa para sentar-se. Pegou minha ficha já previamente preenchida, com meus dados básicos, pela assistente, olhou e confirmou alguns dados. Aí ela olhou pra mim e perguntou: “o que o senhor tem?” Eu disse: “estou com problema no nervo ciático.” Ela disse: “sei o que é isto, porque ele também me perturba.” Pegou o estetoscópio e mediu minha pressão. “Está um pouco alta”, disse ela, “mas para sua idade, não tem tanto problema.” “Toma remédio pra pressão?” Eu disse que sim. “Qual?” Tirei do bolso parte da caixa do remédio, que sempre carrego no bolso e mostrei-lhe. Ela disse:”toma mais algum?

1932

O que a Paraíba tem a ver com a Revolução de 1932, em São Paulo. Como sabemos em 26 de julho de 1930 João Pessoa foi assassinado pelo advogado João Dantas, ajudado pelo cunhado, em uma confeitaria no centro de Recife. João Pessoa fora ao Recife para visitar um amigo que tinha sido operado e João Dantas aproveitou aquele momento para assassiná-lo. A confeitaria Glória ficava na Av. Dantas Barreto, precedida da Av. Guararapes, da Ponte Duarte Coelho e da Av. Conde da Boa Vista; locais famosos e importantes da Veneza brasileira. Pois bem, quais foram os motivos que levaram João Dantas planejar e executar o assassinato? Há pelo menos duas teorias conspiratórias: João Pessoa atacava as oligarquias paraibanas da época, mexeu com o “stabillishment”, envolvendo famílias: Pereira(Princesa Isabel), Suassuna(Catolé do Rocha), Dantas(Teixeira). Tirava privilégios dessas famílias através de regulações, nomeando interventores, etc. O escritório de João Dantas fora invadido, revira

Nespereira

Vejam como as coisas são: Há muitos anos plantamos uma árvore frutífera(nespereira também conhecida por ameixeira) em nossa calçada. Ela cresceu e dá muitos frutos; os pássaros, os macacos comem; o povo que passa na rua também. De vez em quando pegamos algumas para nós, no entanto fico feliz em ver as pessoas e os animais se aproveitarem dessa produção anual, que ocorre em torno do mês de setembro. Quando vou caminhar pelo condomínio aproveito da produção de goiaba, abacate, manga, amora, pitanga, araçá, etc Frutas (de época) disponíveis para quem quiser pegar. Ocorre que pensávamos que éramos donos legítimos dessa árvore, pela razão de termos plantado, cuidado dela como cuida-se de uma criancinha, desde pequenininha; ledo engano o nosso, não somos donos não, para cortar um galho teremos que pedir licença do condomínio que, por sua vez contata o pessoal do meio ambiente, e aí eles cortam no dia que quiserem, no mês que quiserem, no ano que quiserem. Outro dia veio um caminhão da

Halloween

Halloween Já começo a ver nos jardins das casas aqui no condomínio, teias de aranha, enfeites alaranjados, cor de abóbora, caveiras, etc. Repete-se o que fazem nas escolas, agora com menos intensidade devido aos famigerados controles da pandemia. Dia 31 de outubro comemora-se o Halloween e a criançada gosta, e sai às casas, batem palmas, acionam campainhas, pedindo doce: “doce ou travessura”(trick ou treck em Inglês). É um costume que não é nosso, nem dos Estados Unidos, é da Irlanda que já comemora a data há mais de dois mil anos, portanto uma cultura do povo Celta. Todos anos eu associo mentalmente o Halloween ao vídeo do Michael Jackson, quando ele é seguido por vários mortos que saem descabelados, maltrapilhos, com olhos esbugalhados, capengando, dançando divinamente, das sepulturas. Por aqui, nas terras tupiniquins, tentaram colocar o Saci Pererê no lugar, na mesma data, porém o Saci não tem nenhum charme para chamar àtenção das crianças, uma figura de uma perna só, fumand

Impressões sobre a pandemia

Impressões sobre a pandemia Cada um tem a sua pandemia e a forma como a encara, os medos, as incertezas que ela traz, e ainda são muitos os medos e incertezas, decorridos quase dois anos. Embrulhado em volume difícil de abrir, escondido como se escondem drogas para driblar a polícia nos aeroportos, o vírus encomendado ou aparecido naturalmente(?), é como se fora a praga de gafanhotos no Egito, como relata Plínio(o Velho) e a Bíblia. Matou muita gente de fome.   O que mais me tolheu, me estorvou, foi a falta de liberdade para fazer as coisas: de visitar e receber em casa filhos e netos, passear, viajar, de poder rever ou entrar no mar; de procurar médicos para curar meus poucos males. Estou falando de mim como se fosse egoisticamente um incômodo só meu. O incômodo se replica em cada um de nós com efeitos diferentes; pior para os que tiveram a doença e foram obrigados a se entalar com a mangueira na garganta. Os que morreram estão nas estatísticas, engordadas por falhas.   Mas a pandemia

Serra de Santa Catarina

Há uns seis meses eu conversei pelo Facebook com Danilo Venâncio, marido de Ruth Lins Vale, bisneta de tia Mundica, esta última, como quase todos sabem, irmã de minha mãe. Ele postou uma foto da Serra de Santa Catarina, tendo como ponto de observação a cidade de Nazarèzinho/PB, em um momento em que as árvores estavam com bastante flores, que formavam um espetáculo à parte. Essa serra vem lá dos lados Ceará e serpenteia pelo sertão até chegar na Serra da Borborema, e deve nesse percorrer ter outros nomes. Lá da Carnaúba onde meu avô tinha uma fazenda acostumei-me a contemplá-la, que se apresentava para nós na cor azul, devido a distância; naquela região onde nascemos e moramos por algum tempo, antes de nos mudarmos para Marizópolis. [Certa vez foram lá na Carnaúba Antonio Ferreira (açougueiro), Raimundo e Tita esses dois eram meninos mais velhos e maiores do que eu, filhos do citado Antonio(Toinho). Eles foram olhar um boi que meu pai estava vendendo para abate. Aí eu contei uma grande

Atônito

  Atônito Hoje o dia amanheceu nublado por aqui, e até uma chuvinha sem vontade veio.   Incrível como as estações mudam o comportamento dos pássaros, ou os pássaros mudam conforme as estações? No quintal temos uma casinha de passarinhos com novos inquilinos, devem ser filhos dos moradores do ano passado. Alí os gatos não os alcançam e eles cuidam dos filhotes tranqüilamente. Dá a impressão que eles falam para os filhotes que na Primavera do ano seguinte já tem essa casinha pra eles, e assim eles tocam a vida. Quase não se fala no volume de água nos reservatórios, só quando a coisa complica aí todos canais de TV apavoram todo mundo. Vejo alguns comportamentos de pessoas que usam água sem se preocuparem com nada, como se tivéssemos agua pra vida toda, que estamos num período que não chove. É costume, faz parte da cultura paulista, lavar as calçadas, carros, com mangueira, e aqui no condomínio acontece muito. Toda vez que vou caminhar vejo. Aí você comenta num desses grupos de moradores n

Deixe pra amanhã que nós fazemos....

Deixe pra amanhã que nós fazemos....   Anísio era um ex-colega, chefe de um departamento de produção, disse o Abílio. Às sextas feiras após o expediente, íamos juntos com outros colegas, beber cerveja em um barzinho próximo a fábrica, onde havia música ao vivo e as meninas iam dançar. Depois de umas cervejas e conversas ele gostava de contar histórias e manipulava, preenchia quase todo tempo, não dando muita chance para nós outros. Uma dessas histórias era o que ele chamava de uma desculpa da mulher: “deixe pra amanhã que nós fazemos....”   -Você sabe que isso não vai acontecer, é como a promessa do mau pagador: amanhã eu lhe pago; no entanto, você fica um pouco emburrado, sai sem tomar o café da manhã, veste-se e vai trabalhar. Fica o dia todo com o sentimento de vazio, de que está faltando alguma coisa, e está. Você passa pela portaria e ver a Anita(nada a ver com a cantora) com aquele “derrière”, que lhe joga mais pra baixo ainda, porque aquilo ali parece algo inalca

Caso espirre: saúde!

Caso espirre: saúde! Tive um professor de “Introdução a Ciência do Direito” que também lecionava “Direito Civil” para nós, do qual não lembro do nome(vou procurar no material que me restou, pois estou me reportando aos anos setenta); recordo que era muito competente e carismático, dava aula aos Sábados. Ele era meio bonachão, no bom sentido; alto e obeso de bigode fino, tipo dos usados por malandro carioca. Vestia terno e gravata mesmo aos Sábados. Ele pegava um livro do professor Amauri Mascaro Nascimento, e passeava pra lá e pra cá com o livro aberto, como fazem os bons pastores, segurando a Bíblia. Na realidade ele olhava para o livro porém não lia uma linha sequer, ao contrário dos pastores; era só um ponto de apoio, um espécie de amuleto. Enquanto falava, caso algum aluno espirrasse, e muitos espirravam, viu? Um atrás do outro, porque éramos muitos lotando aquele anfiteatro. No meio do discurso, pois ele era dado à tribuna, dizia “saúde” para quem espirrasse, e continuava a dis

Nissei falante

Nissei falante Parte I Nissei, ortopedista, 86 anos, delicada nos gestos e no falar, magra, olhos miúdos e puxados, e o peso nas costas por descender de uma cultura milenar; talvez por isso o corpo tenha arqueado como uma casca de melancia. Fala com segurança, mostrando muita sabedoria. Ela disse, depois de levantar-se para me atender à porta: “entre e sente-se” e deu meia volta ao redor da mesa para sentar-se. Pegou minha ficha já previamente preenchida, com meus dados básicos, pela assistente, olhou e confirmou alguns dados. Aí ela olhou pra mim e perguntou: “o que o senhor tem?” Eu disse: “estou com problema no nervo ciático.” Ela disse: “sei o que é isto, porque ele também me perturba.” Pegou o estetoscópio e mediu minha pressão. “Está um pouco alta”, disse ela, “mas para sua idade, não tem tanto problema.” “Toma remédio pra pressão?” Eu disse que sim. “Qual?” Tirei do bolso parte da caixa do remédio, que sempre carrego no bolso e mostrei-lhe. Ela disse:”toma mais algum

Por que às vezes eu acredito no sobrenatural

Por que às vezes eu acredito no sobrenatural Todos os dias, há muitos anos tomo dois remédios, um prescrito pelo cardiologista logo depois do café da manhã; outro, à noite quando vou dormir, receitado pelo urologista. Ontem à noite peguei uma das caixas, tirei o comprimido da embalagem e ele caiu e rolou pelo chão, procurei e não o encontrei mais. Já que não achei, parti para retirar outro comprimido da mesma embalagem. Nesse momento vi que a caixa era do comprimido que tomo de manhã, aí recoloquei o comprimido de volta(desculpe o pleonasmo) na caixa e peguei a embalagem do outro remédio, da pílula que realmente deveria tomar. Fiquei pensando: alguma coisa tomou-me a frente e não me deixou tomar aquele comprimido. Por isto acho que devemos prestar atenção aos sinais; pra mim aquilo foi um sinal. Alguém pode dizer que foi uma coincidência, que não existe essas coisas de sobrenaturais, foi apenas um erro meu, uma leseira minha. O pensamento é livre, inclusive o meu !  

Meia gota

“Meia gota.” Eu estava numa fila para fazer check-in no aeroporto de Guarulhos, era mais ou menos nove da noite de um Domingo. Era um voo que ia até o aeroporto do Texas, o Forth Worth, nos Estados Unidos e de lá faria uma conexão para São Francisco. Enquanto estava na fila verifiquei que havia uma atriz brasileira ilustre, muito famosa; famosa também pela arrogância. Era Beatriz Segall, a Odete Roitman da novela “Vale Tudo”. Olhei pra ela, ela olhou pra mim, sabia que eu estava reconhecendo-a e eu fiquei feliz e agradecido por ela ter olhado pra mim. Como as pessoas famosas exercem fascínio ou o antônimo sobre nós, não é? Pensei que ia vê-la sentada, na primeira classe ou na classe executiva, mas não; poderia ela estar na classe econômica, a classe que eu tinha uma poltrona reservada? Não sei, não a vi mais. Mas aí quando a gente ver um artista que gosta fica com aquilo na cabeça. Nesse processo lembrei-me de uma vez que ela era uma importante personagem em uma novela que não lembro-m

Rodrigo Lins

Rodrigo Lins Hoje amanheci pensando em uma pessoa que nunca a vi mais gorda, apesar de gorda nas fotos. Quando o convidei para ser meu amigo no Facebook, ele me perguntou: “quem é o senhor?” Eu respondi: “sou seu primo, e fiz uma pergunta em cima da inquirição dele: “você não é neto de Miguelzinho e filho de Zeca?” Ele me respondeu “sim”, mostrando-se interessado. Como se dissesse: ah, ele conhece mesmo minha família! Eu ainda argumentara que conhecia a Patrícia, irmã dele, quando ela brincava com as meninas de Gerisval e creio que também brincava com as meninas de Gilvaneide. Na época que fiz esse primeiro contato com Rodrigo ele morava em Ribeirão Pires (uma cidade fria e úmida, situada em cima da Serra do Mar, na Grande São Paulo), com o tio dele, Messias Lins, filho de Miguelzinho. Bom, de certa forma segui a trajetória de Rodrigo que se reinventara várias vezes e mudava de moradias constantemente, digo isto porque ele, depois de Ribeirão Pires, voltou pra Marizópolis e depois foi

Baile nos anos 60

Baile nos anos 60. Uma história quase verdadeira, de tanto ouvir, de tanto contar, e de algumas invenções ficou assim. Local: numa cidadezinha interiorana qualquer. Personagens principais: Oswaldo, filho bastardo do prefeito. Raquel: ex-miss do Município. A Raquel era uma moça muito bonita e arrogante, não queria dançar com o rapaz que a olhava com os olhos pidões. Ela estava sentada à uma mesa com o pai, a mãe e um irmão pequeno. Todos bebendo cerveja com guaraná, só o garoto bebia crush. Toda vez que o Oswaldo a olhava, ela desviava o olhar. Não era timidez, ela estava evitando ser convidada pra dançar com ele, pois não curtia nenhuma simpatia por ele. Mas Oswaldo cismou que tinha que dançar com a Raquel, era insistente e usava da influência do pai político, para humilhar as pessoas. Foi até a mesa e falou , com um sorriso cínico esticando os lábios num canto só da boca. Oswaldo: vamos dançar? Raquel: olhou para a mãe e para o pai como se lhes pedisse permissão para ace

Mãe

Por causa da caçada ao bandido, serial killer, em Goiás, fiquei pensando na figura da mãe, no papel, no poder e na defesa que ela faz aos filhos. Para mãe não há filho feio. Minha mãe, e de meus quatro irmãos, achava a coruja o bicho mais feio do planeta. Aí uma mãe, em conversa com ela, dizia “meu filho é bonito”; depois da conversa mãe dizia “a coruja também acha bonito os filhos dela”. Pode ser o pior bandido a mãe o defende. A relação da mãe com filho desde o início da vida, é simbiótica. E gesta um filho por nove meses e cuida do filho a vida toda. (Ultimamente tem aparecido na imprensa sensacionalista, mães que mataram filhos ou jogaram-nos no lixo, mas isto não é mãe, é outra coisa). É perda de tempo a imprensa procurar uma mãe para informar onde seu filho bandido estaria escondido. Para mãe não existe filho bandido. A mãe é tão importante que até para tirar documentos, tais como passaporte, identidade, prova de vida, etc, ela é nome obrigatório. Não é a toa que na determina

Cintia Chagas

Tenho visto uns vídeos da professora Cintia Chagas, ensinando Português. Ela dá muito boas dicas. A Marcela Tavares também, só que a Marcela é mais humorista, coloca duas laranjas em cada lado do "sutien" e diz: gente, pelo amor de Deus não existe “eu mim apaixonei, pelo amor de Deus; fale eu “me” apaixonei. Cintia Chagas além de professora é autora de livros de Português, tem muito boa postura e também é daquele tipo de professora que o aluno se apaixona.  A internet, como vocês sabem, está cheia de coisas boas e ruins; temos que ter discernimento para separar, o joio do trigo,  ter uma visão crítica. Mas muita gente engole o que escrevem, da forma que vem aí se engasga, se entala. Português é uma matéria muito importante, é nossa língua, vamos tratá-la bem. A professora Cintia diz que para conseguir emprego, namorar, prestar exames, precisa-se de bom Português.   Eu sempre dou exemplo de um ex-vizinho que é advogado e daqueles que gostam de aparecer e se auto elogiar(eu ach

Os Filhos de Jeca Tatu

“ Os Filhos de Jeca Tatu” Era assim que nós éramos chamados, os filhos de Assis Simão e Lucilinha. Curiosamente, Jeca Tatu não usava sapato ou bota. Mãe contou-me essa história várias vezes e todas as vezes ríamos muito juntos ! Porque mãe tinha sorriso, humor e choro fáceis. Às vezes juntava tudo, numa tacada só, talvez para deixar a coisa mais realista. Pai encomendava pra nós botas e sapatos a Zé Valdevino, que era um sapateiro, digamos, oficial de Marizópolis, cuja oficina era localizada no prédio da esquina, que nós olhamos pra ele a vida toda, onde ela e pai se casaram fugidos, num dia de feira. Eu ia tirar os moldes dos pés, que a princípio eram de papel, depois eram passados para o couro; e eu ficava olhando para aquelas formas de sapato, com três pés de ferro, de madeira, por cima da mesa já toda manchada de tintas e também pelo chão, e as latas de colas e couros cortados espalhando os cheiros próprios desses materiais. E Zé Valdevino com um lápis preso a orelha, ouvia as

Você sabe fazer tapioca?

Você sabe fazer tapioca? A Rua Augusta, na parte que desce para os Jardins, era muito chique, tão chique como é hoje a Oscar Freire. Com o surgimento dos shopping Centers as lojas famosas da Augusta migraram para os Shoppings ou para Oscar Freire. Os playboys das décadas de 50 a 70 trafegavam pela Augusta em alta velocidade, como cantava Ronnie Cord em 1963. Ainda peguei uma beirada desse tempo, inclusive com o bonde. porém, na Augusta eu só ia passear ou tomar um cafezinho, parar em uma livraria, pois as roupas nessa via eram muito caras, longe de quem se protegia do frio com uma japona comprada na Rua José Paulino. “Um rapaz latino - americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, vindo do interior” diria mais tarde Belchior. Na Augusta que desce em direção ao centro, na chamada Baixa Augusta era a parte popular, com vários tipos de lojas(trabalhei em uma loja de sapatos em 1966) e restaurantes. À noite era e ainda é, palco de prostitutas, garotas de programa, bêbados,

Caminhadas

Gosto de caminhar aqui pelas ruas do condomínio, porque é calmo, arborizado. Aqui tem gente boa e gente idiota, como em todo lugar; tem gente rica e gente que quer ser rica, mas não pode, porém invejam as abastadas. Mas é assim mesmo. Mudamos pra cá em 1994, quando havia poucas casas e a Rodovia Raposo Tavares, que é a principal artéria de ligação com a  Capital e com o interior, era tranqüila. Havia tempos que eu corria, hoje só caminho. Em minhas caminhadas converso sozinho, como se estivesse conversando com alguém, e muitas vezes falo e repondo em Inglês para não esquecer esse idioma; também, em casa, leio e traduzo Inglês para Português porque dizem os entendidos que essa prática ajuda a evitar o Alzheimer. Pode parecer coisa de louco, mas como dizem que de médico e de louco, todos nós temos um pouco. Em meu percurso cruzo com muita gente que me cumprimenta e responde meus cumprimentos, outros que nem olham pra minha cara, mas é assim mesmo. Não deixo de dormir por causa disso, até

Ayres

Ayres Costumava ir a uma associação de ex-funcionários de uma empresa que trabalhei muitos anos, em um local muito bem situado na Vila Mariana. Lá encontrava ex-colegas, ouvia as histórias, estórias e até fofocas. Numa dessas vezes encontrei Antonio Ayres, um descendente direto de portugueses, meu xará. Eu iniciei a conversa, entusiasmado: Oi xará, há quanto tempo, hein ! Como vai, etc. Esses inícios de conversas de elevador. Rapaz, tudo bem, respondeu ele, com exceção de algumas mortes. - O quê? - Sim, e de gente que trabalhou diretamente com você. - Lembra do André, aquele rapaz educado, alto e de boa pinta? - Lembro, lógico. - Morreu. - Não me diga isto, Ayres. - Ele se matou. - Caramba Ayres, um cara tão novo. - A gente não sabe o que passa na alma das pessoas, é um mistério. - Sabe de outro que morreu? - Não. - Almeida. - Não me diga, o ferramenteiro? - Sim, foi receber um aluguel atrasado, o inquilino não pagou. Só foi a hora de chegar em casa e morreu d