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Mostrando postagens de novembro, 2020

O Pastor

A mãe acordou às 5:00h, quero dizer, ela achava, pela experiência que era este horário, pois não havia nenhum relógio na casa para confirmar. Tinham ideia do horário pela claridade que despontava, pela manhã que descortinava. Chamou a filha, que algum tempo depois apareceu na cozinha, ainda de camisola, esfregando os olhos, sonolenta. Quando esta chegou já havia duas galinhas d'Angola, pintadinhas de cinza e branco,  batendo as asas no chão da cozinha de terra batida, após serem estranguladas. A mãe pegava nos pés e na cabeça da ave e puxava com força para quebrar o pescoço. Era uma violência que já acostumara, que tratava como normal; aliás, nem pensava nisto, era um ato impensado, um costume de seus antepassados. Para fazer galinha à cabidela ou a molho pardo era uma judiação maior, posto que tinha que degolar a ave e esperar o sangue escorrer em uma vasilha.  No fogão à lenha um alguidar de barro grande com água fervendo, para mergulhar as galinhas e, ato contínuo, serem depenad