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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Cobrador

Cobrador Meu pai não gostava de cobrar as contas dos fregueses para quem ele vendia fiado, sobrava para nós filhos fazermos esse trabalho. E para nós era uma atividade desagradável, mas não podíamos deixar de fazer. Eu achava um absurdo chegarmos ao ponto de cobrar dívida de um freguês, todo mês; raramente vinham saldar seus compromissos espontaneamente. Eu ficava pensando em uma folhinha do calendário anual que mostrava um comerciante que vendia fiado: magro, barbudo, triste, acompanhado de um cachorro esquelético; por outro lado, outro comerciante que só vendia à vista: gordo, de barba raspada, alegre e o cachorro gordo. Havia alguns estabelecimentos comerciais que exibiam uma placa com a frase: “fiado, só amanhã.” Mas era difícil um comerciante sem “pendura”, sem caderneta. Chegava no cidadão e dizia: “meu pai pediu-me para receber a conta”, e falava o valor, exibindo uma caderneta. Às vezes o freguês pedia-me para passar outro dia, ou na semana seguinte. Quer dizer, ele