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Mostrando postagens de abril, 2020

As meninas moças

As meninas moças Elas vinham dos sítios vizinhos para a feira de Marizópolis aos Domingos. Saiam cedo de casa, com seus pais. Na entrada da vila trocavam as sandálias de couro por sapatos de saltos baixos e vinham ajustando o andar sobre o terreno irregular. Eram meninas moças, ainda adolescentes, mas fisicamente com corpo de mulher pronta. Iam para o Mercado, ficavam no portão de entrada ou encostadas nas colunas que ainda hoje sustentam o velho telhado de telhas estilo rom ano; olhando o movimento e flertando com os rapazes. Eram belas meninas, pintadas nos rostos e nas bocas de batom geralmente vermelho. Olhares inocentes, tímidos, mas certeiros. Vestiam-se de vestidos coloridos, estampados, bordados à mão, com barras abaixo dos joelhos e amarrados às cinturas finas(cinturas de pilão, como dizia a canção, naqueles tempos) com uma fita larga e um laço generoso atrás. Entre essas meninas, muitas eram minhas primas que vinham dos Sítios Carnaúba, Belo Horizo

O Gerente Geral

O gerente geral da fábrica era um holandês robusto de corpo e de experiência. Era alto e largo, de pele avermelhada e cabelos louros, caindo sobre a testa, cuja  cor se assemelhava a alfenim. Já havia passado por várias fábricas da empresa no mundo, inclusive na China. Sua primeira providência, quando assumiu a direção dessa última planta, foi mandar pintar todas as portas de vermelho, em homenagem ao país asiático onde trabalhara, e também fora uma maneira de marcar território, como fazem os gatos. Implantou na fábrica uma filosofia de trabalho que todo empregado tinha de se comprometer a seguir, que consistia em fazer um bom trabalho, em todos os níveis hierárquicos, do gerente ao faxineiro, sem exceção, objetivando um trabalho sem nenhum defeito. Erros eram inevitáveis mas o empregado tinha a obrigação de rever e aprimorar o esquema defeituoso para não mais errar; usando um processo de feedback. Avisou aos gerentes, aos chefes, que gostava de conversar e discutir os relatório

Sexta Feira Santa

Sexta Feira Santa O céu de outono cai sobre nós em um tom amarelado nesta Sexta Feira Santa, de temperatura amena, quase fria. Aqui temos as quatro estações um pouco distintas, apesar de uma estação entrar uns dias na outra. À esta altura já corre um vento frio de manhã e no final da tarde. Uma data que temos muito mais a refletir, além da reflexão religiosa. Não pudemos juntar a família para comer um peixe com arroz, pirão e quibebe, conforme é costume aqui em casa. Por não podermos sair de casa, nesta quarentena, encomendamos filé de tilápia à milanesa, a um local próximo, para entregarem até meio dia e meia. Tive o cuidado de fazer o pedido no dia anterior e repetira todas informações para o atendente, para evitar problemas. No dia seguinte, Sexta Feira Santa, não entregaram o pedido no horário combinado, fui tolerante. Pensei: devem ter muitos pedidos para atender, todo mundo fez pedido, ok. Mas aí chegou às 13:30 e nada. Liguei para o local, pediram para eu repetir

A Foto

A Foto Humberto chegara adiantado ao consultório de seu médico, um psiquiatra, conforme planejara; diferentemente de outras vezes quando marcava uma consulta, apareciam problemas de toda ordem em casa que o atrasava e já chegava ao médico tenso e com a pressão arterial alterada. Chegando ao consultório, entregou seu cartão do seguro médico para a recepcionista. Ela pediu que ele aguardasse que seria o primeiro a ser atendido. Carregava dois livros na mochila, embora seja economista, reveza a leitura de dois livros herdados de sua mãe que era psicóloga, ambos de Eric Fromm: “A Arte de Amar” e “A Linguagem Esquecida.” Lera poucas páginas no metrô e continuou a ler mais algumas enquanto aguardava o médico. Este ligou para a recepcionista quando saiu de um hospital na Bela Vista(Bixiga), em direção a Vila Mariana, local do consultório, informando que estava no trânsito congestionado e que previa chegar atrasado meia hora. Em uma pequena estante havia algumas revistas de ca