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Mostrando postagens de junho, 2019

A Estrada para São Gonçalo

A Estrada para São Gonçalo Como eu fizera muitas vezes, ao romper da aurora, após comer um pão da padaria de Dona Iracema, recheado com manteiga ou com nata de leite salgada e café, pegava apressado minha bicicleta Gulliver de pneus balão, prendia os livros escolares ao bagageiro e seguia em direção a estrada de terra, passava sobre o mata-burro de trilhos espelhados, devido ao atrito dos pneus dos veículos ao longo dos anos, que brilhavam à luz do sol ou da Lua, descia pedalando em direção a São Gonçalo. Dava para ver uma nesga de água do açude a direita, espremida entre colinas e serras arborizadas. Acompanhava a conhecida mata “Manga do Posto” dos dois lados da estrada, porém mais densa no lado esquerdo, e um cheiro do capim e das folhas das árvores, molhados pelo sereno da madrugada muitas vezes fria, fazia-se sentir. Pelo que me lembro das conversas que ouvia, dando conta de pessoas que se perdiam na mata; em uma época de chuvas, uma pessoa se perdera, não e

Beber cerveja no bar

Beber cerveja no bar Uma dos prazeres da vida é beber cerveja no bar (no conceito americano do Norte de bar, como os dos farwests; para nós, tupiniquins, balcão), de preferência em um “pub”. Pub, cerveja e “Irish lamb stew”(carne de carneiro ensopada, à Irlandesa), têm tudo a ver, principalmente a quantidade de marcas de cerveja, tirada das máquinas como se fosse chopp, mas no Brasil não há um pub em cada esquina; um bar, sim. Acho que beber cerveja em casa não tem muita graça, ou o mesmo efeito que em um bar; em casa não é um ambiente adequado, não tem o clima. Quando fala-se de uma bebida destilada, whisky, vinho, prefiro beber em casa. Não quero dizer que faço isso sempre, é de vez em quando, depende do estado de espírito no momento, no dia. Às vezes beber cerveja sozinho em um bar é muito bom, areja a mente, coloca-se a cabeça em ordem. É difícil ficar só porque há outras pessoas no bar, no balcão. Elas puxam conversa, mudam de assento para ficar mais próximo de nós. Com

A voz da moça

A voz da moça A voz da moça vinha de um sobradinho de fachada de tijolos aparentes; janelas venezianas pintadas de verde-escuro e molduras pintadas de branco; porta de madeira maciça da mesma cor das janelas; coberto com telhas francesas; daqueles imóveis que ainda se ver em algumas vilinhas nos bairros antigos de São Paulo; só nesses bairros centrais da cidade vêm-se iguais, enquanto as construtoras não comprarem para demolir e construir prédios de aparatamentos. Este sobradinho que me refiro estava em uma rua da Moóca. Digo que a voz era de uma moça, porque era voz de gente jovem, e a voz de gente jovem é fácil de se identificar. Ela cantava das 17:00 às 18:00, nenhum minuto a mais, nenhum minuto a menos. Algumas pessoas se aglomeravam nesse horário em frente ao sobrado para ouvir aquela voz ímpar que os de meia idade diziam que era de Karen Carpenter, de Celine Dion, outros de mais idade diziam que era a voz de Julie Andrews, outros ainda diziam que não precisavam ir tão longe