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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Empréstimo

Empréstimo Seu Alfredo, aposentado, estava lendo o jornal matinal, devia ser em torno das dez. O telefone fixo começou a tocar: uma, duas três vezes. Ele decidiu levantar-se, ainda de pijamas, na boca um gosto de café recém bebido. Percorreu o corredor até chegar ao escritório, local onde estava o aparelho instalado. Nesse espaço de tempo começou a imaginar quem estaria ligando: alguém da família; aquele tipo de ligação que fica-se repetindo alô e ninguém responde; ou então colocam alguém dizendo que é seu/sua filho/a, desesperado/a, dizendo, com uma voz incrivelmente parecida com a dele/a, que fora roubado/a, mas aí você percebe que não é verdade quando faz algumas perguntas sem respostas confiáveis. Em umas dessas ligações pediu para a sua mulher, em paralelo, pelo celular, ligar para o filho para confirmar; aí descobriu com alívio que o filho estava em casa às onze da noite. Quando chegou ao escritório, atendeu: “alô, alô,” ouviu uma voz distante; não estava ouvindo direito

Peru de Natal

Peru de Natal Talvez o título acima e a prática possam causar algum desconforto aos vegetarianos e aos veganos, de início peço-lhes perdão, entendo e respeito seus estilos de vida; mas ainda sou indiretamente um predador confesso. Assim como fazem os judeus e os muçulmanos, com respeito ao consumo de carne, peço perdão também ao peru; só que eles o fazem em frente ao animal vivo e eu o faço “post mortem”. O que quero dizer é que minha esposa Neide era leitora assídua da revista Claudia, e ainda o é, com menor freqüencia; mas na década de setenta ela comprava a revista mensalmente e a lia com entusiasmo. Nessa mesma década, creio que em 1975(o livro não menciona a data) saiu um livro, do Círculo do Livro, “As melhores Receitas de Claudia”. Nesse livro há uma receita de peru que desde aquela época ela segue. A organização dessas receitas, no livro, coube a Sra. Edith Eisler da editora. É uma receita que agrada a todos nós, filhos e netos. Com os miúdos da ave, cozidos, ela a

O Vendedor de Enciclopédias

O Vendedor de Enciclopédias Havia um vendedor de enciclopédias, em meado dos anos setenta, nos tempos em que eu freqüentava a faculdade de ciências contábeis da Universidade Metropolitana de Guarulhos; era João, não me lembro seu sobrenome há essa distância de quase cinqüenta anos. Pode ser que até o final desta curta história eu me lembre. João tem (ou tinha, porque nunca mais tive o prazer de reencontrá-lo) menos de um metro e setenta de altura, caixa torácica larga, como a de um cantor de ópera; cabelos ralos penteados para cima do crânio, numa tentativa de disfarçar a calvice que se apressou em chegar; tez clara e em torno 40 anos.  (Havia vendedores de livros naquela época os quais vendiam enciclopédias, dicionários mas não em livrarias. Era o caso de um senhor que se postava em frente à Universidade. De acentuado sotaque Português, não concorria com o João; vendia livros da área de direito, administração e economia, a prazo. Lembro-me que ele vendia coleções dos jurista