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Mostrando postagens de 2019

Cobrador

Cobrador Meu pai não gostava de cobrar as contas dos fregueses para quem ele vendia fiado, sobrava para nós filhos fazermos esse trabalho. E para nós era uma atividade desagradável, mas não podíamos deixar de fazer. Eu achava um absurdo chegarmos ao ponto de cobrar dívida de um freguês, todo mês; raramente vinham saldar seus compromissos espontaneamente. Eu ficava pensando em uma folhinha do calendário anual que mostrava um comerciante que vendia fiado: magro, barbudo, triste, acompanhado de um cachorro esquelético; por outro lado, outro comerciante que só vendia à vista: gordo, de barba raspada, alegre e o cachorro gordo. Havia alguns estabelecimentos comerciais que exibiam uma placa com a frase: “fiado, só amanhã.” Mas era difícil um comerciante sem “pendura”, sem caderneta. Chegava no cidadão e dizia: “meu pai pediu-me para receber a conta”, e falava o valor, exibindo uma caderneta. Às vezes o freguês pedia-me para passar outro dia, ou na semana seguinte. Quer dizer, ele

Pai Tonho

Pai Tonho Aquele dia que visitamos o meu avô paterno, Pai Tonho (como nós netos o tratávamos), na década de setenta, eu sentira que seria a última vez que o veria; éramos recém casados: minha mulher e eu. Ele era viúvo, minha avó Mãe Iaiá(também, nós netos a tratávamos de mãe), havia falecido há poucos anos. Ele estava sentado em sua rede de tecido xadrez de várias cores vivas. Os mesmos cabelos brancos, ralos, deitavam sobre a cabeça; rosto de muitas dobras e rugas; mãos que exibiam, como documentos, as provas de longevidade e muito trabalho pesado. Estava com mais de noventa anos e enfrentava os duros efeitos de um diabetes tipo dois e da demência ou caduquice, em uma época que não havia muitos remédios, e os médicos que raramente o atendiam, porque morava em um sítio longe dos centros urbanos, apesar de bons, eram clínicos gerais. Ele perguntou para minha tia Mimosa: "quem é?" Ela respondeu "é Genival" É por este nome que sou conhecido naquelas bandas do se

Elisabete

Elisabete Algo estranho acontecera a Elisabete naquela manhã de sábado, às seis horas. Ela acordara e levantara-se rápido, ouvira algumas pessoas conversando, no entorno um silêncio profundo, ouvia-se apenas barulho de talheres, louças, xícaras, pires. Ela abriu uma parte da cortina e da janela de seu quarto em um prédio de três andares, em um condomínio de prédios padronizados, e olhou para baixo. Estava frio e ventando bastante em meados do outono; no entanto, havia três homens sentados a uma grande mesa de madeira, coberta por uma toalha branca rendada, sobre um gramado bem cuidado, vestidos de ternos pretos e gravatas brancas; no meio deles um rapaz vestia-se um pouco diferente dos demais, era também um terno preto, contudo a camisa era branca e gravata rosa; na lapela uma rosa champanhe. Comiam rapidamente, de cabeças baixas, olhando para os pratos, como se tivessem pouco tempo ou estivessem famintos. Os três homens estavam de costas para ela que olhava da janela, sendo

Paciente indisciplinado e preguiçoso

Paciente indisciplinado e preguiçoso O médico disse, após ouvir as queixas de um paciente: ou você está comendo muito rápido ou está comendo muito. Paciente: acho que as duas coisas, doutor. Médico: pois é. Por favor pese-se na balança ali no canto da sala e me informe o peso. A sala era pequena, o médico setava-se a uma mesa quadradinha, parecida com as usadas por cambista de jogo do bicho, apenas um pouco maior; o espaldar da cadeira encostava na parede, que consistia de uma divisória de madeira. O paciente, depois de poucos passos, subiu na balança digital: 91 quilos, doutor. Médico: qual é sua altura? Paciente: um metro e setenta e poucos. Médico: setenta e poucos? Paciente: não me lembro exatamente. Médico: você faz ginástica? Paciente: faço caminhada, quando não está chovendo ou fazendo muito frio e quando não acontece uma dessas intempéries climáticas, às vezes tenho preguiça. Médico: devido a suas queixas de refluxo e estômago estufado, vou pedir al

Akemie-diria-que você ia.

As conversas na mesa redonda vai faltar, Alguém que gostava de falar; Negando sua origem de gente calada. Mas esta não, esta falava! E dava gosto ouvi-la! Suas experiências deviam vir das profundezas, Transmitidas por gerações: Quando falava da vida; Pela força, convicção, quando falava das comidas, E das coisas orientais. O sons de suas palavras devem estar gravados no ar, Aonde também estão gravados o canto dos pássaros; Quem sabe um dia a reencontraremos, Quem sabe um dia a ouviremos de novo. Akemie diria que você ia. 26/10/2019

Feio

Feio Ela dizia: você é muito feio! Eu me retraia, como adolescente tímido. Ela repetia quantas vezes queria, bastava ter junto a nós alguma menina. Eu já estava ciente e convencido; não mais me importava. Ela dizia isto em frente as outras meninas, isto me chateava. Depois ela quis conversar comigo, sozinhos. Ela não queria que as outras me quisessem.

Carta para minhas primas: Iraides, Iracy e Ivone.

Carta para minhas primas: Iraides, Iracy e Ivone. Prezadas e queridas primas, O tempo passou rápido, indiferente a nossos apelos e desejos para reduzir o ritmo. Faz muito tempo que não temos contato, cuja falta pode ser justificada de várias formas, mas a esta altura do campeonato, no pico de meus mais de 72 anos, faço uma análise mais profunda: não nos encontramos por falta de priorizarmos o contato, o encontro, em detrimento de outros compromissos; da distância, de nossos cuidados com a família, enfim, com a vida. Não foi por esquecimento, pelo menos de minha parte, pois mantenho viva a bela imagem de vocês. Quando vou para Marizópolis, ou em contato por telefone com meus irmãos, é comum falarmos sobre vocês; aí falamos: Iraides e Iracy, moram em Recife, que é distante, fica mais difícil vê-las; Ivone mora em Nazarezinho. Gilvaneide diz que via Ivone com mais frequência, pois ela visitava muito nossa mãe. Durante muitos anos tenho procurado vocês no Facebook, e esta

Mais um sonho

Mais um sonho O prédio era alto, liso e imponente feito um obelisco; sisudo, como um mausoléu; as janelas de vidro rentes à fachada, davam-lhe um aspecto de arquitetura sombria, da era stalinista. Depois de comer um pão com manteiga esquentado na chapa e um café bem quente, às cinco da manhã, voltei para cama, comecei a ler e em pouco tempo deu-me sono, cochilei uns quarenta minutos. Nesse cochilo tive um sonho, que é recorrente, embora não freqüente, digamos que ocorra três vezes por ano. Para esclarecer, o livro que estava lendo era “Pássaros Feridos”, da escritora australiana Colleen McCullough; alguém poderia sugerir que o sonho fora sugestionado pela trama do livro, mas não teve nada a ver. Como eu subira ali, e chegara quase ao topo, tentando agarrar-me à beirada do teto, faltando mais ou menos um metro para alcançá-la, eu não sei. Comecei a cair para traz, como a queda de Kim Novak no filme “O Corpo que Cai” de Alfred Hitchicock, mas sem o desfecho do enredo do mestre

Paixão

Paixão Da paixão que a todos nós um dia invade Surge a calmaria(Como na "Pastoral" de Beethoven) Com o amor depois da tempestade Aquela arrasadora Este compensador.

Marx

Marx Quando eu estava na faculdade, o professor de "Sociologia Aplicada a Administração", limitou-se a nos dar os dados biográficos de Marx. Uma turminha não gostou, inclusive eu! Estávamos no regime militar. Disse o professor que Marx estava desatualizado e que suas teorias, quando submetidas a uma análise mais profunda eram incongruentes, impraticáveis. Durante os anos seguintes assistimos ao aparecimento gradual das mazelas comunistas na União Soviética, em Cuba(sustentada pela URRSS), para citar dois exemplos. Em lugar nenhum deu certo. Sabe como é: o dinheiro capitalista acaba e o socialismo se dissolve. Um pouco mais tarde foi jogado uma pá de cal sobre os cadáveres socialistas, com a queda do Muro de Berlim. Mas tem gente que ainda não acordou, como aquelas almas penadas que não sabem que morreram.

Reunião

Reunião Em uma época em que a dedicação, a disciplina, a honestidade, a lealdade, um pouco de técnica, pesavam na avaliação para o crescimento de um empregado, em nível de gerência, dentro de uma organização, o senhor Ulisses, nesse contexto, atingira uma posição de destaque dentro daquela empresa, como gerente administrativo e financeiro, era um bom cargo, ambicionado por muitos; Ulisses tinha em torno de cinquenta e cinco anos. Por outro lado, já havia indícios que a eficiência, a habilidade de entregar bons resultados, e de percorrer os meandros da hierarquia, nem sempre muito honestos, mas políticos, para atingir objetivos, já clareavam no despontar dos anos oitenta; nesses quesitos se enquadrava o senhor Trajano, que era assessor, mas sabia-se que um dia iria ocupar importantes posições. Trajano tinha máximo de 35 anos. Dava a impressão que ele era recalcado devido sua baixa estatura de em torno de um metro e sessenta, meio a muita gente alta naquele departamento; devido

Um sonho dentro de outro

Um sonho dentro de outro Há alguns dias vi um especial sobre a construção de Brasília, desde o início da obra, e, enquanto assistia a matéria, pensava que muita gente de Marizópolis fora trabalhar como “candango” lá na nova capital. Uma dessas pessoas, que me lembro foi Patola. Talvez ele não tenha trabalhado como candango, já que era uma atividade que demandava muito esforço físico e era a menos remunerada. Os candangos, engenheiros, arquitetos, trabalhavam dia e noite porque Juscelino Kubitschek queria a capital pronta em 21 de abril de 1961. Muitas vezes ouvi alguém informando que um caminhão estava formando lotação para levar gente de Marizópolis para Brasília, dizendo que era o lugar de ganhar-se muito dinheiro e propagava as mil maravilhas. Mas depois de muito tempo soubemos que a coisa não era tão bonita assim. Outra lembrança que veio-me a mente foi uma novela chamada “Escalada” na qual atuaram Sergio Britto(Valério Facchini) e Tarcísio Meira (Antonio Dias), co

A Raposa e o Pássaro

A Raposa e o Pássaro Vou contar uma estória, ou uma fábula como queira, que minha mãe contava quando éramos crianças, à noite na calçada. Como faz muitos anos, há algumas adições e subtrações, devido ao andar inexorável do tempo; afinal, quem conta um conto acrescenta um ponto. É sobre a raposa que pegou um pássaro conhecido de todos moradores dos sítios: Pau D'Arco, Carnaúba, Belo Horizonte. Cantava muito bonito, já às cinco da manhã, com a abertura das primeiras flores da primavera, pois o sertão também tem flores, e lindas! Quando essa estação terminava ele silenciava, embora estivesse sempre fisicamente presente. Pela descrição que minha mãe fazia do pássaro, parecia ser um sabiá laranjeira. Pois a raposa atrevida se apresentou a todos com o pássaro na boca cheia de dentes afiados, e o segurava pelo pescoço, já no ponto de dá-lhe uma mordida fatal. As pessoas se juntaram e pediram para a raposa soltar o pássaro, porque era um pássaro muito amado por todos. Mas

Prefácio

Prefácio O que motivou-lhe a escrever? Perguntaram-me. Além do fato de eu gostar, de interessar-me por literatura, de me causar prazer; foi pensando nos meus filhos e nos meus netos, no sentido de deixar alguma coisa registrada; neste entendimento, um livro seria uma “cápsula do tempo”, uma garrafa enrolhada com uma mensagem e lançada ao mar ou a um rio para algum dia, em algum lugar, alguém encontrá-la destampá-la e lê-la; sendo prepotente, como o cesto que abrigou Moisés. Um dia algum deles abrirão este livro e lerão estes contos e crônicas e talvez os motivem contar suas próprias estórias/histórias. Este na realidade é o meu propósito, é o meu sonho que um eles também escrevam. Cotia/SP, outubro de 2019

Jabuticaba

Jabuticaba Como sabemos, a jabuticaba é uma fruta nossa, só existe no Brasil. Além de seu sabor delicioso, que ao mordermos estoura na boca, como estoura um chocolate com licor; de ter fã gente do porte da rainha Silvia da Suécia, que tem DNA tupiniquim; essa frutinha redondinha e preta serve poeticamente para definir a forma e a cor dos olhos de algumas mulheres. Ainda serve, a frutinha, para designar algumas práticas nas áreas jurídica, política e econômica. Alguém diz: essa Lei, esse procedimento, esse projeto, é mais uma jabuticaba; é aquela coisa horrível que é o jeitinho e a falta de civilidade do brasileiro; de deixar o local de um show de rock emporcalhado, enquanto protestava contra os incêndios na Amazônia; de um acúmulo de lixo no Porto Maravilha ao lado de um museu moderno, projetado por Santiago Calatrava, porém de custo altíssimo. Os exemplos são extensos, infindáveis. Reclamar dos políticos? Eles fazem parte e são o resultado, os eleitos, de nossa sociedade hipócrita

“Em rio que tem piranha jacaré nada de costas!”

“ Em rio que tem piranha jacaré nada de costas!” Na adolescência de meus tempos, eu também praticava algumas atividades impensadas; hoje, só de me lembrar, causa-me arrepios. O pior de tudo é que muitas vezes eu fazia aquelas traquinices, irresponsabilidades, sozinho e tive a sorte de nunca ter-me machucado. E, como dizia Zeca Diabo, “minha santa mãezinha” não sabia nada. Eu era um James Bond, às avessas, comedor de canapu; sem saber ainda da existência de Ian Fleming, o escritor; dado que os filmes com o famoso personagem viriam depois. Algumas das travessuras arriscadas: Quando Marizópolis era iluminada por um grande motor e um dínamo gerador de energia elétrica, ao lado do prédio onde a máquina fora instalada havia uma cisterna com água para refrigerar a temperatura do enorme engenho. Era um grande tanque cheio de água, que devido a profundidade a água era turva, não dava para ver o fundo, e havia um pouco de óleo na superfície, posto que a água após passar pelo moto

Mirtes

Mirtes Mirtes era a segunda esposa de meu tio José Simão de Sá, pois ficara viúvo jovem e decidira casar-se de novo, desta vez, e última, com Mirtes. Era negra, bonita, educada, alta (para os padrões daquela época) e alegre. Muitas vezes quando criança íamos para casa deles na Carnaúba para ajudarmos nos trabalhos na roça e também na colheita de algodão. Naquela época os meus primos Antônio, Raimundinho, tinham mais ou menos a mesma idade: minha e de meu irmão Geová, respectivamente. Dormíamos lá e bem cedo Mirtes preparava o café, cantando e às vezes dançando em frente ao fogão à lenha. Ela gostava de cantar e dançar sobre o chão de barro batido da cozinha. Tudo me diz hoje, depois de quase sessenta anos, que Mirtes tinha e conservava, talvez inconscientemente, fortes traços da cultura africana, pelos seus gingados e sons; balançava o corpo como uma abelha dançando, e cantava: "ahcatinguenêguenêgue,ahcatinguenêguenêgue.....ahcatinguenêguenêgue .....", e outras cant

A Lu, sendo a Lu!

A Lu, sendo a Lu! Nesse dia primeiro de setembro de 2019, Lu, Felipe, Matheus, Lucas e eu, fomos a Arena Corinthians, ver o jogo com o Atlético mineiro. Mais importante foi que o Matheus e o Lucas iriam entrar em campo com os jogadores. Resolvemos nos encontrar na estação Santa Cruz do metrô. Fomos pela linha azul até a Praça da Sé e lá trocamos de trem para linha vermelha, com destino a estação Corinthians-Itaquera. Estava chovendo e frio. Chegando a estação Corinthians-Itaquera, decidimos comprar capas de chuva; na realidade deveríamos ter comprado antes, pois pagaríamos menos. Estavam vendendo as capas de plástico fininho por R$ 10,00. A Lu negociou com o vendedor o valor de R$ 40,00 por 5 capas. As capas eram tamanho único, aí a Lu e o Felipe reduziram o tamanho dobrando e dando um nó na parte inferior nas capas das crianças, para evitar tropeção e não arrastar o plástico no chão molhado. Chegamos ao Estádio, fomos revistados e entramos. As crianças foram entregues para uma

Os Jogadores da Praça

Os Jogadores da Praça Os bairros de São Paulo, devido suas dimensões, têm vida própria, como se fossem cidades distintas do todo, que compõe a Capital. Lapa, Pinheiros, Moema, Higienópolis, Tatuapé, Casa Verde, Moóca, Morumbi, Santo Amaro (este último já fora cidade independente, incorporado a Capital em 1935), etc. São alguns exemplos de “cidades”. Por vezes ver-se em praças, nesses bairros, com freqüência mal cuidadas, pessoas sentadas em bancos, aposentados jogando dama, truco, em mesas improvisadas. Em uma dessas praças, em um desses bairros, quatro freqüentadores assíduos, estão jogando dama em uma mesa quadrada e de pernas instáveis: Alberto, falador, de ascendência italiana, que toca um negócio de banca de jornal, com pouco movimento (“por causa da internet”, ele diz). Tem boa voz e de vez em quando canta alto “La Traviata” de Giuseppe Verdi; Juvêncio, motorista de táxi, que tem ponto fixo ali mesmo na praça, cuja reclamação recorrente é de uma empresa de aplicativos,

Registro 3

Registro 3 Na Rua Tito, na Lapa, havia uma empresa metalúrgica, onde trabalhei no início da década de setenta, indicado pelo meu ex-colega de escola e amigo Walter Matheus Vicente. O Walter decidira só estudar, para enfrentar o vestibular de medicina, e eu o substitui. Nesse período eu tinha concluído o curso de técnico em contabilidade, e havia iniciado um o curso de preparação para o vestibular. Ainda não havia escolhido o curso superior que ia fazer. O contador da empresa, Sr. Waldemar Mendonça me dava algumas orientações de ordens pessoal e profissional; um senhor que gostava muito de carros e tinha a aparência física do Glen Müller, usava aqueles tipos de óculos e tudo. Era alto, usava camisas de mangas curtas por fora das calças, mas sempre muito bem passadas. Gostava muito de carros. Estacionava seu carro no outro lado da rua em frente a janela do escritório para facilitar sua visão. Às vezes levantava-se olhava para seu carro através da janela, penteando os cabelos para traz

Registro 2

Registro 2 Na década de setenta eu trabalhei em duas empresas de produção de filmes comerciais para TV e de longa-metragem para o cinema. Na função de sub-contador; naquela época existia esse cargo. A primeira delas foi a G.Smith do Brasil, cujo sócio principal fora um argentino de nome Guilhermo Smith; a segunda, foi a Lutafilmes, cujo longa produzido por ela fora “O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime” dirigido por Tito Teijido, baseado no livro do escritor João Carlos Marinho. O Sr. Guilhermo aparecia no escritório da empresa, para acompanhar os negócios e também quando havia alguma reunião importante com cliente, posto que residia em Buenos Aires. Vinha sempre muito elegante, de terno e gravata; parecia um nobre inglês. Conversava raramente comigo, só quando precisava de alguma informação contábil, pois o contato dele era com os outros sócios e o pessoal da produção. Quando sabia-se que ele vinha ao escritório organizavam-se tudo, punham-se tudo que estava fora de lugar

Registro 1

Registro 1 Seção de amostra de produtos da empresa Ex, meu primeiro emprego em São Paulo, em março de 1966. Wilson(o chefe), Paulo, Caetano, Nelson, Jair, eram meus colegas. Aquela era uma seção que os empregados da empresa gostavam de ir e relaxar nas horas ociosas, lavar um pouco de roupa suja, distantes dos olhos dos chefes, tomar um cafezinho servido pelo seu Casanova, que as meninas o tratavam carinhosamente de “seu Casinha”; mineiro, alto, magro, educado, de cabelos pretos penteados para traz e bigode fininho. Parecia com o comediante italiano Ciccio Ingrassia. Seu Casinha colocava a bandeja com o bule grande de alumínio, quente e cheio, e as xícaras, sobre uma mesa no centro da seção, que era a mesa do chefe. Enquanto bebíamos o café, falávamos de futebol, de programas de TV, da Jovem Guarda. Vinham secretárias de outros departamentos conversar conosco; era uma seção só de homens porque havia muitos trabalhos pesados tais como carregar e descarregar caixas de uma perua,