Hotel em Feira de Santana

Tomei o café da manhã do hotel que me hospedara por seis meses, em Feira de Santana. Era um bom café, sucos, com frutas da região, coalhada, etc. Não me esqueço do cheiro do melão caipira, aquele que a raposa saliva ao sentir o aroma de longe. Deixava a tapioca com manteiga da terra para o final, e a saboreava pausadamente, lentamente como eu aprendi com minha sobrinha; ela, mesmo como estudante de medicina, já sabia dos benefícios de se comer pausadamente, prestando atenção aos sabores, como se fosse um ritual religioso. Ela nunca me disse nada sobre isto, porém eu prestei muita atenção nela enquanto almoçava na casa de minha irmã em Campina Grande, pois foi a última a deixar a mesa. Sabem, muitas vezes não precisamos ouvir nenhum conselho diretamente, o que temos que fazer é prestar atenção aos gestos, aos comportamentos das pessoas e tirar as lições que nos interessam.

Desci a escada do primeiro andar para o térreo, passei pela recepção e sai entusiasmado; o sábado me entusiasmava, me enchia de energia. Fui ao Tênis Clube para minha aula de tênis, finda a aula voltei suado ao hotel para uma chuveirada, em seguida saí pela rua em direção ao Mercado Municipal, parei em uma livraria que eu sempre parava, comprava jornais e revistas e também algum livro que me interessasse. Naquele dia comprei um livro sobre avaliações patrimoniais. Um sujeito adentrou a livraria, daquelas pessoas que já nos causam um pressentimento ruim, não por preconceito; nesses casos faz-se juízo de valor, por segurança. Fiquei folheando o livro, olhando com rabo de olho e vi que ele tinha um revolver, aparentemente um 38, pelo cabo e volume. Naquela época já estava aparecendo os assaltos, os delitos “leves” se comparados aos de hoje. O sujeito foi embora e eu respirei fundo, esperei o coração desacelerar, o nível de adrenalina baixar.
Aquele era um fim de semana que eu tinha que ficar na cidade, porque o acordo com a empresa que eu trabalhava era ir para São Paulo ver esposa e filhos a cada 15 dias, o que às vezes não acontecia, por vários motivos, os principais eram o excesso de trabalho, fechamento de balanço, visitas de colegas da Holanda, etc.
Em frente ao hotel havia uma senhora que fazia o melhor acarajé que comi até hoje, também vendia outras iguarias locais. A baiana toda paramentada com roupas típicas: saia rodada, de cores alegres, bata de renda bordada à “Rechilieu”, turbante, colar, etc.

Havia locais para beber um bom chopp, acompanhado com queijo de coalho assado, na companhia de um paulistano, descendente de alemão, que bebia chopp como água! Os holandeses também gostavam de cerveja e era para esses locais que nós os levávamos.

Bom, é o que tenho pra hoje. “Ademã que vou em frente”, como dizia Ibrahim Sued.

Cotia, 29 de dezembro de 2021

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