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Mostrando postagens de novembro, 2019

Pai Tonho

Pai Tonho Aquele dia que visitamos o meu avô paterno, Pai Tonho (como nós netos o tratávamos), na década de setenta, eu sentira que seria a última vez que o veria; éramos recém casados: minha mulher e eu. Ele era viúvo, minha avó Mãe Iaiá(também, nós netos a tratávamos de mãe), havia falecido há poucos anos. Ele estava sentado em sua rede de tecido xadrez de várias cores vivas. Os mesmos cabelos brancos, ralos, deitavam sobre a cabeça; rosto de muitas dobras e rugas; mãos que exibiam, como documentos, as provas de longevidade e muito trabalho pesado. Estava com mais de noventa anos e enfrentava os duros efeitos de um diabetes tipo dois e da demência ou caduquice, em uma época que não havia muitos remédios, e os médicos que raramente o atendiam, porque morava em um sítio longe dos centros urbanos, apesar de bons, eram clínicos gerais. Ele perguntou para minha tia Mimosa: "quem é?" Ela respondeu "é Genival" É por este nome que sou conhecido naquelas bandas do se

Elisabete

Elisabete Algo estranho acontecera a Elisabete naquela manhã de sábado, às seis horas. Ela acordara e levantara-se rápido, ouvira algumas pessoas conversando, no entorno um silêncio profundo, ouvia-se apenas barulho de talheres, louças, xícaras, pires. Ela abriu uma parte da cortina e da janela de seu quarto em um prédio de três andares, em um condomínio de prédios padronizados, e olhou para baixo. Estava frio e ventando bastante em meados do outono; no entanto, havia três homens sentados a uma grande mesa de madeira, coberta por uma toalha branca rendada, sobre um gramado bem cuidado, vestidos de ternos pretos e gravatas brancas; no meio deles um rapaz vestia-se um pouco diferente dos demais, era também um terno preto, contudo a camisa era branca e gravata rosa; na lapela uma rosa champanhe. Comiam rapidamente, de cabeças baixas, olhando para os pratos, como se tivessem pouco tempo ou estivessem famintos. Os três homens estavam de costas para ela que olhava da janela, sendo

Paciente indisciplinado e preguiçoso

Paciente indisciplinado e preguiçoso O médico disse, após ouvir as queixas de um paciente: ou você está comendo muito rápido ou está comendo muito. Paciente: acho que as duas coisas, doutor. Médico: pois é. Por favor pese-se na balança ali no canto da sala e me informe o peso. A sala era pequena, o médico setava-se a uma mesa quadradinha, parecida com as usadas por cambista de jogo do bicho, apenas um pouco maior; o espaldar da cadeira encostava na parede, que consistia de uma divisória de madeira. O paciente, depois de poucos passos, subiu na balança digital: 91 quilos, doutor. Médico: qual é sua altura? Paciente: um metro e setenta e poucos. Médico: setenta e poucos? Paciente: não me lembro exatamente. Médico: você faz ginástica? Paciente: faço caminhada, quando não está chovendo ou fazendo muito frio e quando não acontece uma dessas intempéries climáticas, às vezes tenho preguiça. Médico: devido a suas queixas de refluxo e estômago estufado, vou pedir al