Deixe pra amanhã que nós fazemos....


Deixe pra amanhã que nós fazemos....
 
Anísio era um ex-colega, chefe de um departamento de produção, disse o Abílio. Às sextas feiras após o expediente, íamos juntos com outros colegas, beber cerveja em um barzinho próximo a fábrica, onde havia música ao vivo e as meninas iam dançar. Depois de umas cervejas e conversas ele gostava de contar histórias e manipulava, preenchia quase todo tempo, não dando muita chance para nós outros. Uma dessas histórias era o que ele chamava de uma desculpa da mulher: “deixe pra amanhã que nós fazemos....”
 
-Você sabe que isso não vai acontecer, é como a promessa do mau pagador: amanhã eu lhe pago; no entanto, você fica um pouco emburrado, sai sem tomar o café da manhã, veste-se e vai trabalhar. Fica o dia todo com o sentimento de vazio, de que está faltando alguma coisa, e está. Você passa pela portaria e ver a Anita(nada a ver com a cantora) com aquele “derrière”, que lhe joga mais pra baixo ainda, porque aquilo ali parece algo inalcançável, parece até que é uma coisa sagrada, intocável. Meu pai dizia, disse Abílio, que quem tem uma mulher, tem meia; que tem duas, tem uma e meia.
 
Nesse momento todos nós ríamos muito, não só pela história em si, mas pela forma, a voz, os gestos que ele usava para nos convencer.
 
Juvenal, era o mais calado, porém deu sua opinião:
-Muitos casamentos acabam por isso.
 
Mendonça disse:
-O ronco também destrói o casamento. Não só o ronco do homem, da mulher também.
 
Samuel disse:
-O ronco separa e você ver aquilo acabando, definhando, e você não consegue fazer nada, fica preso, como se estivesse fraco, sem forças, algemado. No melhor dos casos o casal fica amigo. Li numa revista.
 
O Anísio disse:
-Olhem a Anita aí, meu Deus do céu!

 

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