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Mostrando postagens de agosto, 2018

Dicionário do Aurélio

Dicionário do Aurélio Em 1975 ganhei de presente de aniversário a primeira edição do dicionário de Aurélio Buarque de Holanda. Embora haja posteriores publicações, de edições atualizadas, seguindo os acordos ortográficos dos países lusófonos e de novos verbetes, mantenho aquela primeira edição, por haver um apelo sentimental muito forte; além da dedicatória, há assinaturas de meus ex-colegas do departamento onde eu estava lotado. Alguns até não mais estão sobre a Terra. Traba lhava em uma grande companhia holandesa, na divisão de Santo Amaro, em São Paulo, Capital. Organização onde laborei por mais de vinte e três anos. É que há algumas décadas se faziam carreiras nas empresas; o empregado de muitos anos era valorizado, diferentemente de hoje; com efeito, o mercado hoje valoriza aqueles profissionais que já passaram por várias empresas; os que ficam muito tempo nos quadros de uma organização, são considerados acomodados. Havia avaliação de desempenho, mas não era um sistema de met

Contos Que a Vida Conta

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Download deste livro (e-book) nos seguintes endereços: Amazon, Kobo, iBooks, Google e Hugendubel.de. Também na seção de e-Books das livrarias Cultura, Saraiva, etc. https://www.amazon.com.br/Contos-vida-conta-Antonio-Lins-ebook/dp/B07CWW9NG6/ref=sr_1_6?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=antonio+lins&qid=1554128902&s=gateway&sr=8-6 Você vai encontrar neste livro alguns contos curtos que comecei a escrever em 2014. Tinha quase tudo em rascunhos, em um blog ou rolando em minha mente, querendo sair, como uma erupção vulcânica.  São várias situações vividas por pessoas interessantes que conheci e convivi em Recife, Manaus, São Paulo e no sertão da Paraíba – "levo o sertão dentro de mim", como disse Guimarães Rosa. Há também ficção baseada em personagens reais, como "Adamastor", criado a partir das características de uma pessoa que conheci; já "Madrugada" foi uma lembrança de infância.  Os contos "O vaquei

Tia Judite

Tia Judite Ultimamente tenho pensando muito nas minha tias irmãs de minha mãe, em especial de minha tia Judite; ela era uma das cinco irmãs de mãe. Embora sendo eu suspeito para falar, a achava muito bonita, educada, falava calmamente, de gestos delicados e nos permitia penetrar em seu olhar fixo e distante. Não tinha muito estudo mas tinha classe. Era magra, de feições finas, e de olhos claros. Podia vestir os vestidos mais simples, contudo lhe caíam sempre muito bem, devido ao seu corpo franzino. Ficou viúva muito nova, mas já tinha tido três filhas e não mais se casou. O seu marido foi Augusto César, homem que pouco posso dizer sobre ele; tenho dúvida se cheguei a vê-lo em vida; vê-lo sim, mas não lembrar porque eu tinha três anos quando ele faleceu. As filhas de tia Judite: Iracy, Iraides e Ivone, são todas muito bonitas e causavam muitos cometários enciumados, pelo menos quando elas iam para Marizópolis. Alguns as achavam de nariz empinado, mas creio era mesmo invej

Um Jeito de Viver

Um Jeito de Viver “ É peculiar e educada a forma como essa minha amiga de idade na casa dos setenta se dirige às pessoas,” disse Augusto, um amigo de muitos anos, que nos últimos tempos passou a ser mais frequente e próximo: ela diz, quando inquirida, que seu modo de tratar as pessoas com esse jeito delicado, “deve ter vindo do berço”, pois ninguém lhe ensinara esses bons modos; mesmo seus pais. Dona Abigail, como é conhecida, é alta, magra, alva, cabelos brancos como a cal, sem tintura, é viúva e bonita. Enviuvara com menos de 60 anos, poderia até ter voltado a se casar, mas não se interessou, apesar de alguns pretendentes, “inclusive eu”, diz Augusto, também viúvo, em tom de brincadeira (embora por trás de toda brincadeira deva haver vestígios de verdade); “alguns interessantes”, como ela diz vaidosa. Leva uma vida quase monástica; sai pouco de casa. Os vestidos sempre lhe caem muito bem, realçando seu corpo ainda desenhado por curvas; não era mais aquele corpo em forma

Sousa, a cidade sorriso.

Sousa, a cidade sorriso. Morei em Sousa mais de quatro anos, de 1960 a 1964. Em 2014 andei pelas ruas dessa charmosa e sorridente cidade, relembrando minha época: da sorveteria Flor de Lis; do Cine Moderno; do Clube; das festas da Igreja-Matriz; da loja “A Magnólia”; de Dr. Tomaz, meu professor de ciências, que proferia com sua voz forte e braços gesticulantes discursos inflamados; da dona Luci, professora de matemática, que tinha um amor virtual ou platônico por Tales de Mileto; do professor Senhorzinho, do meu colégio 10 de Julho; lembrei-me do Dr. Nias, homem de grande saber jurídico e de cultura enciclopédica, bebendo cerveja na sorveteria Flor de Lis; até de Bienvenido Granda, cercado de fãs curiosos na mesma sorveteria. Esgueirei-me para ver o cantor bigodudo e até vi parte de seu show disputando uma fresta de janela, do local onde ele se apresentara; até do açude Gato Preto; e muito mais. Lembrei-me das saídas dos alunos das escolas após as aulas; das meninas do Colégio d

Sonhos Acrofóbicos

Sonhos Acrofóbicos No cume dos penhascos, (olhando pro precipício); No alto dos edifícios, (sobre uma tábua de trampolim, oscilante); No fio de navalhas, (sem respirar, sem me mover); Caminhando sobre um fio, (sem rede de proteção); Numa escada altíssima, (caindo pra trás). Depois, um grito surdo de Münch.

O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe

O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe Em uma reunião tensa, sem tempo para terminar, na empresa onde eu trabalhava, fez meu chefe, lotado nos Estados Unidos, me pedir para ir ao aeroporto de Congonhas, para remarcar sua viagem de volta, para mais tarde. A internet estava engatinhando não tinha algumas facilidades de hoje em dia, para resolvermos alguns problemas remotamente. Peguei um táxi e fui ao aeroporto com o bilhete e seu passaporte. Colocara os documentos em bolsos separados, como medida de segurança. Fui até ao balcão da empresa aérea e fiz tudo que tinha que ser feito. Peguei um táxi de volta, subi ao escritório. Entreguei o passaporte ao chefe. Ele me perguntou: “e o bilhete?” Eu revirei os bolsos e não o encontrei. Ele ficou bravo. “Você perdeu meu bilhete, como isto pode acontecer?” Eu respondi que tudo indicava que eu perdera, e que voltaria imediatamente ao aeroporto para ver como resolver o problema. O bilhete poderia ser reemitido, mas de qualquer forma seria um tran

Marizópolis é Global!

Marizópolis é Global! Ontem, 09/08/2018, por informação de minha irmã Gilvaneide, acessei pelo Facebook a missa que foi transmitida da Igreja de Santo Antonio, em Marizópolis. Imagens claras, bonitas e bom som. Foi bom porque acabei revendo à distância pessoas que nunca mais vira, dentro da igreja. Não tenho religião, mas respeito a crença das pessoas em quê quer que seja. Depois de assistir ao evento da missa, pus-me a pensar e me lembrei que há quase cinquenta anos atrás, eu e meu irmão Geová tentamos fazer uma ligação telefônica de São Paulo para Marizópolis; para o telefone que estava instalado na casa de nossa tia Raimunda. Tinha-se que ir falando com as telefonistas, nas centrais telefônicas, que transferiam as ligações de uma cidade para outra, até chegar ao destino desejado. Como em um desentupimento de cano, a mangueira ou o tufão, às vezes, chega em um ponto e para, empaca, e não tem jeito de ir para frente; a nossa ligação parou em Sousa, e não foi para Marizópolis. Tenta

Krista e a Outra

Krista e a Outra Inverno de 1970, um domingo, em torno das onze horas havia sol mas não impedia o frio, e o vento que batia em nossos rostos, aumentava ainda mais a sensação térmica de mais frio. Um amigo e eu seguíamos conversando pela Avenida São João em São Paulo, quando na altura da Praça Júlio Mesquita encontramos duas garotas, que eram amigas desse meu amigo. Ele as apresentou a mim; eram muito bonitas, educadas, bem vestidas de roupas de inverno, botas canos-longos e mini-saias cobrindo parte das pernas roliças e longas, com meias-calças. Ele chamava uma delas de Krista, a outra, não lembro o nome. Não esqueci mais o nome de Krista, creio que por ser diferente; a outra, deveria ter um nome fácil de se esquecer. Paramos na referida praça, que naquela época não havia nenhum receio de sermos assaltados. Local que poucos meses antes eu cruzara com Caubi Peixoto, numa manhã de sábado bem cedo, saindo de um bar. Eu olhei pra ele e ele percebera que estava sendo reconhecido e, vaid

B.O.

B.O. Naquele dia Jonas se dirigira em torno das nove horas à delegacia de polícia do bairro onde mora. Fora fazer um B.O.(Boletim de Ocorrência). Imaginara que ia ficar lá muito tempo a esperar, (porque era assim o normal), para ser atendido. Para aproveitar o tempo levou um jornal do dia e um livro. O gerente do banco onde ele era cliente pediu-lhe que fosse a uma delegacia de polícia e desse queixa dos saques ocorridos em sua conta, sem seu conhecimento e consentimento. Ao contrário do que previra, fora atendido rapidamente, nem dera tempo de abrir o jornal ou o livro. Uma senhora que devia estar beirando os sessenta anos o chamou e pediu-lhe para sentar-se à sua frente, à uma mesa daquelas que parecem ser alugadas; com toda aquela feiura de móveis muito usados e sem manutenção. Ela, de cabelos pintados de loiro, batom vermelho, sobrancelhas um pouco arqueadas e mais escuras que os cabelos; todos os dedos da mão esquerda com anéis imitando ouro, sendo que no anular havia d

A Tempestade

A Tempestade Há muito tempo, em um certo lugar, naquela madrugada de verão, houve uma grande tempestade: chuva e vento fortes; trovões e relâmpagos; como é comum a todo temporal que se preze. Ângela, 35 anos, morena clara, corpo desenhado de curvas generosas, acordou, pulou da cama em um átimo e correu para sala e banheiro para cobrir os espelhos. Os espelhos não podiam ficar descobertos, para não refletir a luz dos relâmpagos e atrair raios, conforme ela acreditava, mas não sabia muito bem explicar. Edgar, era cinco anos mais velho que ela, porte físico musculoso, forma de quem faz trabalhos pesados, que há pouco roncava em um sono profundo; acordou de súbito e se levantou devido ao barulho que sua esposa fizera. A luz rápida dos relâmpagos era vista pelas frestas das portas, pelas pequenas brechas das telhas de barro cozido e das janelas, como se houvesse fogo ardendo lá fora. O temporal começou forte, durou quase uma hora, mas foi arrefecendo aos poucos, como a calmaria do últim

A Moça

A Moça Locais de exames médicos geralmente são quase todos iguais; pode mudar o mobiliário, o espaço, mas o clima, o ambiente mórbido, salas cheias, pouco muda. As pessoas ocupam o tempo de espera, checando a senha com o número informado em uma tela, e mexendo no celular. Poucos leem alguma coisa, a não ser no próprio aparelho, navegando nas redes sociais. À minha frente estavam sentados um senhor, cuja idade calculei na casa dos oitenta; era um homem de estatura grande, com aparência de James Taylor, não estava sentado normalmente, parecia que se sentava na coluna vertebral em vez de sentar-se sobre a bunda, por causa dessa postura atrapalhava as pessoas que iam utilizar o elevador, porque tinham que se desviar de suas longas pernas; usava um óculos de armação tipo Rayban, com lentes corretivas fortes e transparentes; ao seu lado, uma moça que parecia ser sua neta, em vista do carinho e cuidado que ela lhe dedicava, estimei sua idade em torno de vinte. Muito bonita, aspecto

Foi um Sonho

Foi um Sonho Lá atrás havia um sonho, Por algum motivo fútil fora desfeito; As mágoas, as alegrias, as tristezas suponho, Tomaram os espaços vazios de nossos peitos. Peitos onde nossos corações batiam, Juntos e ás vezes descompassados; Nos beijos, nos abraços, nas danças, onde haviam; Motivos de sobra para sonharmos abraçados. Nossa juventude inquieta e imatura, Teimou em nos separar; Sem pensar em cobranças futuras, Que nossas vidas insistem em mostrar. Agora esse tempo todo, Às vezes nos pega a lamentar; Que poderia ter sido de outro jeito, Do jeito que era nosso, só nosso de nos amar; Valendo-nos do órgão que enche o lado esquerdo do peito, Que faz nosso sangue quente circular. Uma luz brilhou, No céu azul estrelado; Como fizera com os três Reis Magos, nos guiou; E uma força maior pôs ele e ela, aos nossos lados: Para formarmos famílias distintas, Amadas e lindas!

Sertão, Julho de 2018

Sertão, Julho de 2018. Ida e volta ao sertão da Paraíba de ônibus, de Campina Grande a Marizópolis, sete horas de viagem; ônibus confortável, com ar condicionado, mas pára muito, um sobe e desce; e checagem de bilhetes de passagem, e põe e tira malas, nesse ritual por toda estrada. Em quase todas cidades o ônibus pára nas rodoviárias. Raramente os banheiros estão limpos ou têm papel higiênico ou sabão para lavar as mãos. Quando paramos para refeições ficamos à mercê das escolhas dos motoristas dos ônibus que devem se beneficiar com refeições grátis; mas nem sempre resulta na melhor alternativa para os passageiros. Quatorze horas no total, ida e volta. Eu tinha livros para ler mas resolvi olhar a irresistível paisagem, acompanhar a cordilheira azul, que vem dos lados do Ceará e que parece dividir os Estados de Paraíba e Pernambuco, que se estende preguiçosa e bela margeando a estrada à distância, em todo percurso, até a Serra da Borborema. Bela geografia, com efeito, contrasta com a

“Saco” vermelho

“ Saco” vermelho A casa era uma daquelas que existe em muitas fazendas do Nordeste; também as chamam de bangalôs. Era uma casa alpendrada, para amenizar o calor, sentar-se à noite, receber visitas e esperar pelo frescor do vento Aracati; o alpendre era sustentado por colunas de tijolos, rebocados e vigas de madeira sobre as colunas, formando um quadrado, com laterais, frente e fundo; coberto de telhas tipo colonial de barro queimado. A parte do alpendre nessas casas geralmente tem um telhado com nível inferior ao telhado normal; essa casa não tinha, descia reto, era uma continuação do telhado principal. Nas colunas onde foram presos os ganchos, armavam-se as redes para tirar-se um cochilo, principalmente a tarde, após o almoço ou final do dia, para repor as energias, depois da lida no campo. A casa era protegida por uma cerca simples, que não impedia animais de pequeno porte ultrapassá-la; apesar de que havia alguns bodes enxeridos, sem canga, que desafiavam a segurança e pulavam a

My Autobiography as a Writer

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