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Mostrando postagens de setembro, 2018

O Morro

O Morro Ele viu-se de repente sobre um morro, de pouca altura, o vento soprava fortemente, como ventava em “(*) O Morro dos Ventos Uivantes”; o topo sem capim ou qualquer forração, só havia terra plana, só tinha capim e árvores nas encostas que desciam para alcançar a planície; era distante da cidade; aliás, ele nem via sinal da cidade. Caminhou em direção a um lugar que pudesse ter transporte para voltar para casa; ele não sabia a razão de ter chegado ali. Viu alguns adolescentes, que aparentemente voltavam da escola,   carregavam mochilas presas aos ombros, perguntou a eles onde teria um ponto de ônibus. Os adolescentes o levaram para um local que era um labirinto, com paredes estreitas de pedra, daquele tipo de labirinto que nos causa aflição, asfixia e desespero para encontrarmos a saída; dando a impressão que nunca mais iríamos sair; passando pelo labirinto ele estaria no caminho do ponto de ônibus. Mas ele se perdera lá dentro e não vira mais os adolescentes. Após sair do

A Casa da Moóca

A Casa da Moóca O design e a arquitetura da casa eram dos anos quarenta, talvez fora planejada e construída por um capomastro* , na Moóca, bairro central da cidade de São Paulo, onde boa parte dos imigrantes italianos moravam. A casa tinha fortes linhas italianas: nas janelas venezianas pintadas de verde-escuro, molduradas de cimento e pintadas de branco; nas portas altas ; na parte externa pintada com “ terracotta orange”; detalhes mantidos mesmo depois de algumas reformas ao longo dos anos. Essa casa que servira de residência de várias gerações da mesma família, palpitava-se que testemunhara nascimentos, casamentos, amores, traições, desavenças e mortes. Olhada de frente, um muro alto, metade de tijolos e colunas revestidos de argamassa e a outra metade, um gradil de ferro trabalhado, com grades cheias de detalhes. O portão de duas folhas, também de ferro, seguia o mesmo formato do gradil do muro. Quando passava-se o portão, atravessava-se o jardim por um caminho de pedras

Dona G..

Dona G. Dona G., era uma mulher muito bonita: morena clara, olhos pretos e redondos como jabuticaba; cintura bem definida, braços roliços, sempre à mostra, parte por causa do calor, parte por gostar de exibi-los, por vaidade; corpo bem feito, nem era gorda nem magra, era o corpo mais comum da época, porque estávamos no início da década de sessenta. E o tempo forja o estilo, a moda, a arte, a vida. Ela devia estar na casa dos trinta, e já tinha uma filha de três anos. O marido, seu M., era um pouco mais velho, devia ter uns quarenta. Ele gostava de sair de casa à noite para jogar sueca com os amigos, principalmente aos sábados e domingos. Ela ficava sozinha a esperá-lo até tarde; só ia dormir quando ele chegava, ele quase sempre com cheiro de cigarro e de álcool. Ela pensava em fazer algo diferente, quando ele chegasse, contudo, ele caia na cama com todo corpo que beirava a obesidade, de roupa e tudo. Havia um adolescente de nome A., de quatorze anos que morava na casa, parente