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Mostrando postagens de outubro, 2019

Akemie-diria-que você ia.

As conversas na mesa redonda vai faltar, Alguém que gostava de falar; Negando sua origem de gente calada. Mas esta não, esta falava! E dava gosto ouvi-la! Suas experiências deviam vir das profundezas, Transmitidas por gerações: Quando falava da vida; Pela força, convicção, quando falava das comidas, E das coisas orientais. O sons de suas palavras devem estar gravados no ar, Aonde também estão gravados o canto dos pássaros; Quem sabe um dia a reencontraremos, Quem sabe um dia a ouviremos de novo. Akemie diria que você ia. 26/10/2019

Feio

Feio Ela dizia: você é muito feio! Eu me retraia, como adolescente tímido. Ela repetia quantas vezes queria, bastava ter junto a nós alguma menina. Eu já estava ciente e convencido; não mais me importava. Ela dizia isto em frente as outras meninas, isto me chateava. Depois ela quis conversar comigo, sozinhos. Ela não queria que as outras me quisessem.

Carta para minhas primas: Iraides, Iracy e Ivone.

Carta para minhas primas: Iraides, Iracy e Ivone. Prezadas e queridas primas, O tempo passou rápido, indiferente a nossos apelos e desejos para reduzir o ritmo. Faz muito tempo que não temos contato, cuja falta pode ser justificada de várias formas, mas a esta altura do campeonato, no pico de meus mais de 72 anos, faço uma análise mais profunda: não nos encontramos por falta de priorizarmos o contato, o encontro, em detrimento de outros compromissos; da distância, de nossos cuidados com a família, enfim, com a vida. Não foi por esquecimento, pelo menos de minha parte, pois mantenho viva a bela imagem de vocês. Quando vou para Marizópolis, ou em contato por telefone com meus irmãos, é comum falarmos sobre vocês; aí falamos: Iraides e Iracy, moram em Recife, que é distante, fica mais difícil vê-las; Ivone mora em Nazarezinho. Gilvaneide diz que via Ivone com mais frequência, pois ela visitava muito nossa mãe. Durante muitos anos tenho procurado vocês no Facebook, e esta

Mais um sonho

Mais um sonho O prédio era alto, liso e imponente feito um obelisco; sisudo, como um mausoléu; as janelas de vidro rentes à fachada, davam-lhe um aspecto de arquitetura sombria, da era stalinista. Depois de comer um pão com manteiga esquentado na chapa e um café bem quente, às cinco da manhã, voltei para cama, comecei a ler e em pouco tempo deu-me sono, cochilei uns quarenta minutos. Nesse cochilo tive um sonho, que é recorrente, embora não freqüente, digamos que ocorra três vezes por ano. Para esclarecer, o livro que estava lendo era “Pássaros Feridos”, da escritora australiana Colleen McCullough; alguém poderia sugerir que o sonho fora sugestionado pela trama do livro, mas não teve nada a ver. Como eu subira ali, e chegara quase ao topo, tentando agarrar-me à beirada do teto, faltando mais ou menos um metro para alcançá-la, eu não sei. Comecei a cair para traz, como a queda de Kim Novak no filme “O Corpo que Cai” de Alfred Hitchicock, mas sem o desfecho do enredo do mestre

Paixão

Paixão Da paixão que a todos nós um dia invade Surge a calmaria(Como na "Pastoral" de Beethoven) Com o amor depois da tempestade Aquela arrasadora Este compensador.

Marx

Marx Quando eu estava na faculdade, o professor de "Sociologia Aplicada a Administração", limitou-se a nos dar os dados biográficos de Marx. Uma turminha não gostou, inclusive eu! Estávamos no regime militar. Disse o professor que Marx estava desatualizado e que suas teorias, quando submetidas a uma análise mais profunda eram incongruentes, impraticáveis. Durante os anos seguintes assistimos ao aparecimento gradual das mazelas comunistas na União Soviética, em Cuba(sustentada pela URRSS), para citar dois exemplos. Em lugar nenhum deu certo. Sabe como é: o dinheiro capitalista acaba e o socialismo se dissolve. Um pouco mais tarde foi jogado uma pá de cal sobre os cadáveres socialistas, com a queda do Muro de Berlim. Mas tem gente que ainda não acordou, como aquelas almas penadas que não sabem que morreram.

Reunião

Reunião Em uma época em que a dedicação, a disciplina, a honestidade, a lealdade, um pouco de técnica, pesavam na avaliação para o crescimento de um empregado, em nível de gerência, dentro de uma organização, o senhor Ulisses, nesse contexto, atingira uma posição de destaque dentro daquela empresa, como gerente administrativo e financeiro, era um bom cargo, ambicionado por muitos; Ulisses tinha em torno de cinquenta e cinco anos. Por outro lado, já havia indícios que a eficiência, a habilidade de entregar bons resultados, e de percorrer os meandros da hierarquia, nem sempre muito honestos, mas políticos, para atingir objetivos, já clareavam no despontar dos anos oitenta; nesses quesitos se enquadrava o senhor Trajano, que era assessor, mas sabia-se que um dia iria ocupar importantes posições. Trajano tinha máximo de 35 anos. Dava a impressão que ele era recalcado devido sua baixa estatura de em torno de um metro e sessenta, meio a muita gente alta naquele departamento; devido

Um sonho dentro de outro

Um sonho dentro de outro Há alguns dias vi um especial sobre a construção de Brasília, desde o início da obra, e, enquanto assistia a matéria, pensava que muita gente de Marizópolis fora trabalhar como “candango” lá na nova capital. Uma dessas pessoas, que me lembro foi Patola. Talvez ele não tenha trabalhado como candango, já que era uma atividade que demandava muito esforço físico e era a menos remunerada. Os candangos, engenheiros, arquitetos, trabalhavam dia e noite porque Juscelino Kubitschek queria a capital pronta em 21 de abril de 1961. Muitas vezes ouvi alguém informando que um caminhão estava formando lotação para levar gente de Marizópolis para Brasília, dizendo que era o lugar de ganhar-se muito dinheiro e propagava as mil maravilhas. Mas depois de muito tempo soubemos que a coisa não era tão bonita assim. Outra lembrança que veio-me a mente foi uma novela chamada “Escalada” na qual atuaram Sergio Britto(Valério Facchini) e Tarcísio Meira (Antonio Dias), co

A Raposa e o Pássaro

A Raposa e o Pássaro Vou contar uma estória, ou uma fábula como queira, que minha mãe contava quando éramos crianças, à noite na calçada. Como faz muitos anos, há algumas adições e subtrações, devido ao andar inexorável do tempo; afinal, quem conta um conto acrescenta um ponto. É sobre a raposa que pegou um pássaro conhecido de todos moradores dos sítios: Pau D'Arco, Carnaúba, Belo Horizonte. Cantava muito bonito, já às cinco da manhã, com a abertura das primeiras flores da primavera, pois o sertão também tem flores, e lindas! Quando essa estação terminava ele silenciava, embora estivesse sempre fisicamente presente. Pela descrição que minha mãe fazia do pássaro, parecia ser um sabiá laranjeira. Pois a raposa atrevida se apresentou a todos com o pássaro na boca cheia de dentes afiados, e o segurava pelo pescoço, já no ponto de dá-lhe uma mordida fatal. As pessoas se juntaram e pediram para a raposa soltar o pássaro, porque era um pássaro muito amado por todos. Mas

Prefácio

Prefácio O que motivou-lhe a escrever? Perguntaram-me. Além do fato de eu gostar, de interessar-me por literatura, de me causar prazer; foi pensando nos meus filhos e nos meus netos, no sentido de deixar alguma coisa registrada; neste entendimento, um livro seria uma “cápsula do tempo”, uma garrafa enrolhada com uma mensagem e lançada ao mar ou a um rio para algum dia, em algum lugar, alguém encontrá-la destampá-la e lê-la; sendo prepotente, como o cesto que abrigou Moisés. Um dia algum deles abrirão este livro e lerão estes contos e crônicas e talvez os motivem contar suas próprias estórias/histórias. Este na realidade é o meu propósito, é o meu sonho que um eles também escrevam. Cotia/SP, outubro de 2019

Jabuticaba

Jabuticaba Como sabemos, a jabuticaba é uma fruta nossa, só existe no Brasil. Além de seu sabor delicioso, que ao mordermos estoura na boca, como estoura um chocolate com licor; de ter fã gente do porte da rainha Silvia da Suécia, que tem DNA tupiniquim; essa frutinha redondinha e preta serve poeticamente para definir a forma e a cor dos olhos de algumas mulheres. Ainda serve, a frutinha, para designar algumas práticas nas áreas jurídica, política e econômica. Alguém diz: essa Lei, esse procedimento, esse projeto, é mais uma jabuticaba; é aquela coisa horrível que é o jeitinho e a falta de civilidade do brasileiro; de deixar o local de um show de rock emporcalhado, enquanto protestava contra os incêndios na Amazônia; de um acúmulo de lixo no Porto Maravilha ao lado de um museu moderno, projetado por Santiago Calatrava, porém de custo altíssimo. Os exemplos são extensos, infindáveis. Reclamar dos políticos? Eles fazem parte e são o resultado, os eleitos, de nossa sociedade hipócrita