Impressões sobre a pandemia


Impressões sobre a pandemia

Cada um tem a sua pandemia e a forma como a encara, os medos, as incertezas que ela traz, e ainda são muitos os medos e incertezas, decorridos quase dois anos. Embrulhado em volume difícil de abrir, escondido como se escondem drogas para driblar a polícia nos aeroportos, o vírus encomendado ou aparecido naturalmente(?), é como se fora a praga de gafanhotos no Egito, como relata Plínio(o Velho) e a Bíblia. Matou muita gente de fome.
 
O que mais me tolheu, me estorvou, foi a falta de liberdade para fazer as coisas: de visitar e receber em casa filhos e netos, passear, viajar, de poder rever ou entrar no mar; de procurar médicos para curar meus poucos males. Estou falando de mim como se fosse egoisticamente um incômodo só meu. O incômodo se replica em cada um de nós com efeitos diferentes; pior para os que tiveram a doença e foram obrigados a se entalar com a mangueira na garganta. Os que morreram estão nas estatísticas, engordadas por falhas.
 
Mas a pandemia não foi só desgraça, ela nos deu a possibilidade de refletir, de olhar para as pessoas de outra forma, como seres humanos; de enfrentar alterações na forma de negociar, de vender e de comprar; de empobrecer, de perder emprego, de ficar sem nada.
A gente que entendeu de forma errada é minoria, que relata como se fosse a pauta principal, mas é minoria, graças a Deus !
 
Como alento, os seres humanos são como as formigas, elas estão em lugares inalcançáveis, só conseguimos eliminar as da superfície, as mais importantes hierarquicamente, estão protegidas lá no fundo; portanto, analogicamente, não seremos extintos.
Nesse período li bastante, escrevi, estudei, escutei muita música clássica, rock, jazz e vi vídeos e filmes interessantes, muito mais do eu fizera antes, em dois anos.
 
As roupas foram acabando, encurtando, encardindo, rasgando, manutenções atrasando, CNH vencida, tintas desbotando, num processo natural que tudo tem fim. Agora estamos num momento de correr atrás das pendências, de respirarmos sem o gás carbônico das máscaras, e devagarinho sairmos da toca, porque a chuva aparentemente começou a cessar.
 
Obs.: escrevi esta crônica ouvindo o “Triple Concert” de Beethoven. Que maravilha! Como é bom viver para ouvir esse primor de composição.
Cotia/SP 17-10-2021.

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