Mirtes
Mirtes
Mirtes
era a segunda esposa de meu tio José Simão de Sá, pois ficara
viúvo jovem e decidira casar-se de novo, desta vez, e última, com
Mirtes. Era negra, bonita, educada, alta (para os padrões daquela
época) e alegre. Muitas vezes quando criança íamos para casa deles
na Carnaúba para ajudarmos nos trabalhos na roça e também na
colheita de algodão. Naquela época os meus primos Antônio,
Raimundinho, tinham mais ou menos a mesma idade: minha e de meu
irmão Geová, respectivamente. Dormíamos lá e bem cedo Mirtes
preparava o café, cantando e às vezes dançando em frente ao fogão
à lenha. Ela gostava de cantar e dançar sobre o chão de barro
batido da cozinha.
Tudo
me diz hoje, depois de quase sessenta anos, que Mirtes tinha e
conservava, talvez inconscientemente, fortes traços da cultura
africana, pelos seus gingados e sons; balançava o corpo como uma
abelha dançando, e cantava:
"ahcatinguenêguenêgue,ahcatinguenêguenêgue.....ahcatinguenêguenêgue
.....", e outras cantigas da moda; às vezes com uma criança no
colo.
Eram
sons que ouço de vez em quando na música africana, que faz-me
pensar e lembrar dela. Mas aí é que está, nós cometemos o erro, o
pecado de não irmos a fundo na origem das pessoas de nossa família.
Talvez por sermos famílias numerosas, de ambos os lados: os Simão
de Sá e os Lins de Albuquerque, que habitam todo o Brasil e até
outros países.
Mirtes
era uma mulher muito forte, tanto quanto meu tio Zé Simão; haja
vista o tempo de vida deles dois; embora ela tenha sofrido (com
efeito, também os mais próximos dela) bastante os últimos tempos.
Não
podemos esquecer que a história é a soma da história das pessoas.
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