“Em rio que tem piranha jacaré nada de costas!”
“Em
rio que tem piranha jacaré nada de costas!”
Na
adolescência de meus tempos, eu também praticava algumas atividades
impensadas; hoje, só de me lembrar, causa-me arrepios. O pior de
tudo é que muitas vezes eu fazia aquelas traquinices,
irresponsabilidades, sozinho e tive a sorte de nunca ter-me
machucado. E, como dizia Zeca Diabo, “minha santa mãezinha” não
sabia nada. Eu era um James Bond, às avessas, comedor de canapu; sem
saber ainda da existência de Ian Fleming, o escritor; dado que os
filmes com o famoso personagem viriam depois.
Algumas
das travessuras arriscadas:
Quando
Marizópolis era iluminada por um grande motor e um dínamo gerador
de energia elétrica, ao lado do prédio onde a máquina fora
instalada havia uma cisterna com água para refrigerar a temperatura
do enorme engenho. Era um grande tanque cheio de água, que devido a
profundidade a água era turva, não dava para ver o fundo, e havia
um pouco de óleo na superfície, posto que a água após passar pelo
motor, era devolvida para à cisterna, em um processo de alimentação
e retorno, com funcionamento semelhante ao radiador de um veículo.
Pois eu costumava entrar naquele tanque e mergulhar para me refrescar
do calor. A água era fria e envolvente. Não sei como eu entrava
para acessar a cisterna pois a porta da frente era trancada com
cadeado; sei que havia uma escada de madeira dentro do quintal ou do que chamávamos de “muro”, que eu a utilizava para alcançar o tanque.
***
Na
estrada para Sousa, antes de chegar em São Gonçalo, há um túnel
que passa por baixo da estrada, com água que se estende até um
braço do açude. Costumávamos nadar ali. Muitas vezes voltando de
bicicleta de São Gonçalo eu resolvia parar e tomar um banho na água
fresca, tirar o suor, e seguir minha viagem de volta para
Marizópolis. Certa vez eu estava sozinho, estacionei minha
bicicleta, despi-me, entrei na água, comecei a nadar com a intenção
de atravessar o túnel, em direção ao açude. Quando estava mais ou
menos no meio do percurso, vi uma cobra que nadava em minha direção,
daquele tipo de cobra conhecida como cobra d'água. Voltei nadando
rapidamente para o local onde eu entrara, sai da água incontinenti,
vesti-me, fui pedalando a bicicleta, arrependido da besteira que eu
fizera.
***
Quando
o açude de São Gonçalo estava sangrando, o excesso de água, às
vezes alto, precipitava-se parede abaixo até atingir as pedras
erodidas do Rio Piranhas. Ali qualquer descuido poderíamos cair para
nunca mais voltar vivo; era um perigo. Pois costumávamos pular da
parede mais alta, e cair bem próximo ao sangrador.
***
Por
essa época também não havia água encanada. A água para consumo
da casa, para encher os potes de barro, para beber; reabastecer a
caixa d'água para tomar banho, era transportada em ancoretas presas
em cangalhas no lombo de jumentos. Fazíamos várias viagens de ida e
volta ao açude, tangendo os jumentos. Na última viagem ficávamos
algum tempo tomando banho e apostando quem nadava mais rápido, quem
atravessava o braço do açude e voltava em menos tempo. Era um local
onde muitos de nós aprendíamos a nadar. Atravessávamos aquele braço
de açude nadando nus. Havia muita piranha que poderia nos morder,
tirar pedaço de nós, deixar-nos incapazes pelo resto da vida. Não
sabíamos que “em rio que tem piranha jacaré nada de costas!”
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