Tia Judite


Tia Judite

Ultimamente tenho pensando muito nas minha tias irmãs de minha mãe, em especial de minha tia Judite; ela era uma das cinco irmãs de mãe. Embora sendo eu suspeito para falar, a achava muito bonita, educada, falava calmamente, de gestos delicados e nos permitia penetrar em seu olhar fixo e distante. Não tinha muito estudo mas tinha classe. Era magra, de feições finas, e de olhos claros. Podia vestir os vestidos mais simples, contudo lhe caíam sempre muito bem, devido ao seu corpo franzino. Ficou viúva muito nova, mas já tinha tido três filhas e não mais se casou. O seu marido foi Augusto César, homem que pouco posso dizer sobre ele; tenho dúvida se cheguei a vê-lo em vida; vê-lo sim, mas não lembrar porque eu tinha três anos quando ele faleceu.

As filhas de tia Judite: Iracy, Iraides e Ivone, são todas muito bonitas e causavam muitos cometários enciumados, pelo menos quando elas iam para Marizópolis.
Alguns as achavam de nariz empinado, mas creio era mesmo inveja; elas fugiam do comportamento e do padrão normal do lugar porque são muito discretas, educadas, além de belas.
Ivone vive em Nazarezinho, ia com freqüencia visitar minha mãe, uma das tias que ela gostava muito, em uma época que eu já não mais morava com meus pais. Iracy era professora e namorou um rapaz, da família Vale, durante muitos anos, mas não se casou com ele.
Sobre Iracy, recentemente vi seu nome citado em um livro: “Um Olhar da Estrada: Memórias de Nazarezinho” do autor Humberto Mendes de Sá Formiga. Ela é listada, nominada Iracy César de Albuquerque, junto a outras professoras também importantes de Nazarezinho.
Iraides estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora em Sousa e tivemos a oportunidade de participar juntos da peça “A Fundação da Igreja”. Fui escolhido para fazer o papel de São Pedro, não pelo talento mas pelo meu porte físico. Pedi para ser substituído por um personagem menos importante, pois eu era tímido para dizer todas aquelas falas que São Pedro teria que dizer, sentíra-me mais confortável atuar como coadjuvante; e ela, de uma Santa romana que não me lembro o nome. Mas era linda; tanto como Iraides quanto como a Santa. Uma das vezes que fui para Sousa, passamos ( a Neide e eu ) na casa dela; ela já tinha, pelo que me lembro, dois filhos. Nos contou, entre outras coisas, que morara uns tempos em São Paulo, na Vila Mariana. Eu, morando em São Paulo, há muito tempo, não fiquei sabendo. Naquele mesmo dia também passamos na casa de tia Judite, pois naqueles tempos ela passara uma temporada em Sousa, junto com Iracy que também a encontramos lá.
Costumávamos, quando crianças, ir para casa de tia Judite por ocasião das festas de São Sebastião em Nazarezinho, cujo santo é o padroeiro daquela cidade.

Nazarezinho não ficava muito distante do sítio onde meus avós maternos {Antonio Rodrigues dos Santos e Maria (Augusta) Lins de Albuquerque} moravam. Às vezes íamos pra lá a pé ou a cavalo, pelos caminhos estreitos, no meio da caatinga de mufumbo, jurema e marmeleiro. Não era raro chegarmos ao nosso destino com as roupas infestadas de carrapicho.

Numa das vezes que fomos a cavalo, havia chovido muito, e ao atravessarmos um riacho, de correnteza forte, cujo volume de água atingia a barriga dos cavalos, o cavalo que meu pai montava se espantou com o não sei o quê e o derrubou dentro do riacho. Não me lembro se eu estava na garupa do animal. Ele ficou com um pé preso no estribo da cela e com a cabeça para baixo, imersa na água. Teria morrido caso alguém de nossa comitiva, composta por minha mãe, avós e tios, não tivesse lhe prestado socorro rapidamente. O cavalo parou no meio do riacho, ficou imóvel, enquanto meu pai se debatia desesperado, sem conseguir se reerguer nem se desgrudar do estribo. Ele estava vestindo um terno de linho branco, bem engomado, para participar das festividades. Chegando a casa de tia Judite teve secar o terno molhado e amarrotado, com um ferro de passar.


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