O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe


O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe
Em uma reunião tensa, sem tempo para terminar, na empresa onde eu trabalhava, fez meu chefe, lotado nos Estados Unidos, me pedir para ir ao aeroporto de Congonhas, para remarcar sua viagem de volta, para mais tarde. A internet estava engatinhando não tinha algumas facilidades de hoje em dia, para resolvermos alguns problemas remotamente. Peguei um táxi e fui ao aeroporto com o bilhete e seu passaporte. Colocara os documentos em bolsos separados, como medida de segurança. Fui até ao balcão da empresa aérea e fiz tudo que tinha que ser feito. Peguei um táxi de volta, subi ao escritório. Entreguei o passaporte ao chefe. Ele me perguntou: “e o bilhete?” Eu revirei os bolsos e não o encontrei. Ele ficou bravo. “Você perdeu meu bilhete, como isto pode acontecer?” Eu respondi que tudo indicava que eu perdera, e que voltaria imediatamente ao aeroporto para ver como resolver o problema. O bilhete poderia ser reemitido, mas de qualquer forma seria um transtorno. Era parte da manhã, digamos umas 11:00 e ele voltaria em um voo remarcado às 19:00. Quase de saída para pegar um táxi, ainda no escritório, um taxista me ligou do aeroporto, dizendo que havia encontrado um envelope não lacrado contendo um bilhete da companhia aérea tal emitido em nome de fulano de tal, no saguão de Congonhas.
O taxista conseguira me localizar porque havia endereço e telefone da empresa junto ao bilhete. Meus batimentos cardíacos devem ter caído, naquele momento, a níveis saudáveis, com a boa notícia.
Eu disse que já estava de saída para o aeroporto, e marcamos nos encontrar na área interna, em um determinado lugar. Tive que levar algum dinheiro para compensar o trabalho dele.
No táxi, em direção ao aeroporto, eu sentara no banco de trás.
Neste momento senta-se “alguém” ao meu lado e diz: “eu sou a voz de sua  consciência”. EU respondi: “quem? Nunca a vi, como se atreve a dizer que é a voz de minha consciência, e além disso sentar-se aqui sem nem me pedir licença?”
A "voz da consciência" disse: “eu posso entrar e sair em qualquer lugar, vou e volto em tão pouco tempo que não se pode calcular, e sem que ninguém me veja; só me materializo quando necessário, como agora.” E continuou: “Você não sabe o que seu chefe está pensando de você.” EU perguntei: “o que ele estaria pensando de mim? O que aconteceu foi um acidente, tomei muito cuidado, mas infelizmente perdi a droga do bilhete.”
A "voz da consciência" disse: “pois é, mas ele mandou-lhe ao aeroporto porque confia em você, caso contrário mandaria outro serviçal qualquer.”
EU respondi: “eu sei disso, realmente eu me preocupo com o que ele está pensando, talvez me achando no mínimo um descuidado, com efeito, é o que eu não posso ser, já que sou um dos que controlam as contas da Companhia.”
A "voz da consciência" disse: “é certo pensar assim, mas pense também em sua avaliação anual, em uma proposta de promoção, em aumento de mérito, mesmo em seu relacionamento no dia a dia com ele.”
EU respondi: “pois é, voz da consciência, estou me flagelando, como quem se pune de um pecado mortal, malhando as costas com um chicote; nessa fração de tempo, que para mim já dura um ano, pensei em tudo que podia.”
A “voz da consciência” respondeu: “faça tudo que for lícito para reverter essa imagem da cabeça dele.” E despediu-se com um “até logo e boa sorte.”
EU disse: “só faltava essa, alguém vir lá dos quintos dos infernos, me dando lição de moral, numa hora dessas me enchendo o saco.”
O taxista me entregou o envelope, o conteúdo estava certo; explicou-me como e onde o encontrara. Eu agradeci sua gentileza e seu gesto honesto. Dei-lhe um dinheiro, e lhe disse que era para compensar o tempo que ele ficara a me esperar, tempo esse que poderia estar rodando com um cliente. Voltei a empresa, entreguei o bilhete ao chefe, ele me perguntara o que acontecera, e eu lhe contei toda história. Mas não lhe disse nada da “voz da consciência.”


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