Sousa, a cidade sorriso.
Sousa,
a cidade sorriso.
Morei
em Sousa mais de quatro anos, de 1960 a 1964. Em 2014 andei pelas
ruas dessa charmosa e sorridente cidade, relembrando minha época: da
sorveteria Flor de Lis; do Cine Moderno; do Clube; das festas da
Igreja-Matriz; da loja “A Magnólia”; de Dr. Tomaz, meu professor
de ciências, que proferia com sua voz forte e braços gesticulantes
discursos inflamados; da dona Luci, professora de matemática, que
tinha um amor virtual ou platônico por Tales de Mileto; do professor
Senhorzinho, do meu colégio 10 de Julho; lembrei-me do Dr. Nias,
homem de grande saber jurídico e de cultura enciclopédica, bebendo
cerveja na sorveteria Flor de Lis; até de Bienvenido Granda, cercado
de fãs curiosos na mesma sorveteria. Esgueirei-me para ver o cantor
bigodudo e até vi parte de seu show disputando uma fresta de janela,
do local onde ele se apresentara; até do açude Gato Preto; e muito
mais. Lembrei-me das saídas dos alunos das escolas após as aulas;
das meninas do Colégio das Freiras, que saiam apressadas mostrando,
com o dançar das saias plissadas, seus lindos joelhos e de suas
cinturas que nos levavam aos céus; dos desfiles de 7 de setembro
organizados com muita disciplina pelo Getúlio; que competíamos com
o Colégio das Freiras e Escola do Comércio, para fazermos o melhor
desfile e sermos os primeiros classificados; das descidas em câmara
de ar, aproveitando a correnteza caudalosa das cheias do Rio Doce. A
mente e a paixão são difíceis de se controlar, e eu não queria
que fossem controladas, continuei andando, como se estivesse
desmontando um rosário de contas, peça à peça. Lembrei-me dos
oitões das casas e das igrejas, em dias de festa, acolhendo os
namorados se abraçando e se beijando nervosos, a se esconderem para
não serem reconhecidos; do desfile matinal de “Miss Banana”,
movimentando seus generosos quadris, exibindo notável beleza, alheia
aos comentários de hipócritas e maldosos que se lhe faziam,
aludindo a sua provável escolha de um “brinquedo” de prazer; das
prostitutas que saiam às ruas, após as noitadas, com seus vestidos
de saias rodadas, costuradas abaixo da linha da cintura, porém se
comportavam, fora de seus metiês, como as chamadas damas da
sociedade.
Lembrei-me
dos flertes e dos amores inesquecíveis. Ah! Disso muito me lembrei.
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