Natal

Não tínhamos muito interesse pelo Ano Novo, festejávamos mais o Natal; para nós havia razões para seguir o que os padres e pastores pregavam. Mas as coisas foram mudando, aos poucos, em pequenas doses, em um tempo que não está tão longe. Não sei porque as Igrejas não conseguiam manter as pessoas no âmbito das religiões. Não tem nada a ver com progresso, “isso não é progresso, isso é tentação do diabo” assim dizia seu João da bodega. E seu João apontava para pintura de Cristo crucificado, pendurada na prateleira dizendo para seus fregueses que bebiam cachaça com raiz de catuaba: “este homem nos salvou” e todos, concordavam e, por respeito, tiravam os chapéus das cabeças.

Íamos para as igrejas católica e Batista, porque a família, àquela altura, estava dividida(não era uma divisão exata, havia mais parentes na Igreja Católica) pois tínhamos avós nas duas religiões. Chamavam os protestantes de “bodes”, muito antes do “politicamente correto”. Em um dos livros do Jorge Amado, não me lembro qual, um personagem refere-se a um fulano que era “bode”.

Quando meu pai, que era católico, referia-se ao meu avô materno, o chamava de “bode velho”; minha mãe não gostava nada; porém os dois se respeitavam.

Lá vai aquele “bode velho” todo aprumado de terno e gravata, com a Bíblia debaixo do sovaco, para a Igreja Protestante diziam alguns.

Na Igreja Batista era servido coisas que as crianças gostavam de comer: sequilhos, doces, suspiros, etc. Também cartões de Natal coloridos, com a neve caindo. A neve era uma coisa mágica, inalcançável para nós.

O mercado Municipal ficava aberto, mesmo no dia vinte e cinco. Sucos, doces de amendoim, de mamão verde, doce de leite, quebra queixo, etc. Guaraná, Grapette, Seven Up, eram luxo, só bebíamos quando estávamos doentes! Mas era Natal e podíamos beber. O cachorro quente era um pãozinho aberto e recheado com carne moída, cebola e temperos; era uma delícia!

Era tudo muito simples, mas bom!

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