A Título de Registro

 

A Título de Registro

Agora o ônibus deslizava pela planície sousense, à esquerda já se viam os primeiros coqueiros e os bangalôs de São Gonçalo, e lá em cima da “Pedra Talhada”, imponente: Marizópolis, a Mesopotâmia do Sertão.

O rádio do ônibus tocava “Menina Veneno” de Ritchie. Quem ia descer em Marizópolis já se esgueirava para pegar seus pertences, tentando equilíbrio no corredor do ônibus. Para descer em Marizópolis, carecia de avisar ao motorista, porque a passagem vendida em João Pessoa tinha destino final a cidade de Cajazeiras. A viagem de João Pessoa-Marizópolis, durava quase nove horas, devido ao excesso de paradas que o ônibus fazia; umas necessárias, outras para atender acordos tácitos com donos de restaurantes, que nem sempre eram interessantes para os passageiros. Com mais ou menos a mesma distância São Paulo-Rio, na época, fazia-se a viagem em seis horas, em ônibus mais confortáveis.

Naquela altura Marizópolis já fora desmembrada da administração de Sousa havia uns dois anos, e um passageiro, que não ia descer em Marizópolis disse: “Marizópolis é cidade, emancipada, pergunto: era necessário, sendo um lugar tão pequeno?” Ninguém emitiu voz, apenas alguns resmungos de desaprovação e outros, sorrisos contidos de concordância. Mas ele tinha razão, no sentido de que a cidade não conseguia, como muitos municípios brasileiros, boa parte criados com fins eleitoreiros, viver com suas próprias pernas, com suas próprias receitas de impostos e taxas; dependiam de repasses do governo federal.

Em meu entender a cidade melhorou, conforme minhas visitas, ao longo desses 25 anos de emancipação.

Quando o primeiro prefeito, Zé Vieira, foi eleito e diplomado, pela Câmara também recém-eleita, estivemos eu e meu irmão Geová, em seu gabinete na primeira sede da prefeitura, para parabenizá-lo pela conquista e conversar um pouco com ele, em parte devido a proximidade de sermos parentes distantes, e a amizade que mantínhamos ao longo dos anos com seus pais Lauro e Solidade, principalmente Solidade que muitas vezes passara semanas na casa de meus pais e às vezes Zé Vieira, menino, estava junto. Como eu e meu irmão tínhamos experiência administrativa e contábil, adquirida com muito estudo e trabalho duro, com efeito, havíamos acumulado poeira nas costas, devido algum tempo de estrada, trabalhando; eu em empresas privadas nacionais e multinacionais; e ele em empresas privadas e públicas, julgamos que podíamos ajudar com alguns conselhos ao novo prefeito. Da conversa lembro-me que enfatizáramos a necessidade do tratamento da água, com cloro, e o saneamento básico(esgoto), para evitar muitas doenças, principalmente nas crianças, que morriam prematuramente. Zé Vieira ainda se acostumando com o poder e a responsabilidade que tinha pela frente, nos ouviu pacientemente.

Não tenho a intenção de fazer nenhum juízo de valor ou balanço das administrações de Marizópolis, nem das anteriores nem da atual, apenas destacar que sempre tivemos a preocupação com o destino da cidade, embora distantes geograficamente.

Como dizem os americanos: “ just for the record.”



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