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Diário de Viagem

Diário de Viagem Período: 26/09 a 10/10/2018 País: Itália (Roma, Pompéia, Nápoles, Costa Amalfitana e Sicília) Guia da empresa de viagem: Carlos (educado, culto, paciente, elegante; bigode estilo Ronaldo Fraga). Anotações tiradas de um caderninho da “Moleco”, feitas sobre os “joelhos” sob o solavanco do ônibus da excursão, sob o sacolejo dos barcos e no cochilo antes de dormir, nos quartos dos hotéis. Dia 27/09 - Roma Quando chegamos ao Aeroporti Fiumicino di Roma, depois de uma longa e cansativa viagem, devido a duração e ao desconforto da classe econômica, enfrentamos filas homéricas, ficamos mais de duas horas na Imigração. A quantidade de atendentes não guardava proporção com o volume de pessoas nas filas. Devido ao atraso, as malas já não estavam mais na esteira correspondente ao voo; procuramos informações no local de reclamações, mas não era o caso de malas perdidas ou desviadas; retiraram as malas da esteira porque ficaram lá girando muito tempo. Havia pesso...

Conjuntivite

Conjuntivite O médico oftalmologista, disse: “Sr. Antonio, pode entrar”. Eu dirigi-me rapidamente à sua sala, estirei a mão para cumprimentá-lo mas ele me deu o braço e disse: “conjuntivite.” Achei que ele estivesse com a doença, por isso não me dera a mão para apertá-la. Aí ele me perguntou: “qual o problema, seu Antonio?” Eu disse: “estou com os olhos vermelhos, como se alguns vasos sanguíneos tivessem rompido.” Ele apontou uma cadeira a frente do aparelho onde o paciente coloca o queixo e fica olhando fixo para aquela luzinha. Depois do exame, ele disse: “conjuntivite. Da braba.” Agora sim, era comigo. Ele disse, após sentar-se à sua mesa e pedir-me para sentar-me em uma cadeira à sua frente: “vou receitar um colírio que vai resolver esse problema em mais ou menos cinco dias, e qualquer problema volte a me procurar.” Enquanto escrevia a receita, percebi que ele usava uma caneta-tinteiro, e de vez em quando molhava o bico da mesma em um pote de tinta ali a sua frente, voltava a e...

Bate e Volta para Santos

Bate e Volta para Santos                                                      I Os dois bancos, um de frente para o outro pareciam assentos de trem, de forma que as pessoas pudessem conversar olhando nos olhos das outras; apesar de que hoje em dia estariam a olhar para as telas de seus celulares, digitando textos. Mas não estavam em um trem, parecia mais um utilitário adaptado; de qualquer forma também atendia aos que estivessem sentado naqueles bancos, o desejo e a disposição de conversarem. Era um sábado cedo, os dois casais, amigos de muito tempo, estavam sentados nos bancos daquele veículo, em direção ao litoral, em um fim de semana prolongado, cujo feriado caia na segunda feira. Combinaram deixar os carros em casa e irem de carona para Santos, pegar uma praia, passear um pouco, almoçar e voltar final da tarde. É o chamado bate e volta. ...

O Morro

O Morro Ele viu-se de repente sobre um morro, de pouca altura, o vento soprava fortemente, como ventava em “(*) O Morro dos Ventos Uivantes”; o topo sem capim ou qualquer forração, só havia terra plana, só tinha capim e árvores nas encostas que desciam para alcançar a planície; era distante da cidade; aliás, ele nem via sinal da cidade. Caminhou em direção a um lugar que pudesse ter transporte para voltar para casa; ele não sabia a razão de ter chegado ali. Viu alguns adolescentes, que aparentemente voltavam da escola,   carregavam mochilas presas aos ombros, perguntou a eles onde teria um ponto de ônibus. Os adolescentes o levaram para um local que era um labirinto, com paredes estreitas de pedra, daquele tipo de labirinto que nos causa aflição, asfixia e desespero para encontrarmos a saída; dando a impressão que nunca mais iríamos sair; passando pelo labirinto ele estaria no caminho do ponto de ônibus. Mas ele se perdera lá dentro e não vira mais os adolescentes. Após sair...

A Casa da Moóca

A Casa da Moóca O design e a arquitetura da casa eram dos anos quarenta, talvez fora planejada e construída por um capomastro* , na Moóca, bairro central da cidade de São Paulo, onde boa parte dos imigrantes italianos moravam. A casa tinha fortes linhas italianas: nas janelas venezianas pintadas de verde-escuro, molduradas de cimento e pintadas de branco; nas portas altas ; na parte externa pintada com “ terracotta orange”; detalhes mantidos mesmo depois de algumas reformas ao longo dos anos. Essa casa que servira de residência de várias gerações da mesma família, palpitava-se que testemunhara nascimentos, casamentos, amores, traições, desavenças e mortes. Olhada de frente, um muro alto, metade de tijolos e colunas revestidos de argamassa e a outra metade, um gradil de ferro trabalhado, com grades cheias de detalhes. O portão de duas folhas, também de ferro, seguia o mesmo formato do gradil do muro. Quando passava-se o portão, atravessava-se o jardim por um caminho de pedras...

Dona G..

Dona G. Dona G., era uma mulher muito bonita: morena clara, olhos pretos e redondos como jabuticaba; cintura bem definida, braços roliços, sempre à mostra, parte por causa do calor, parte por gostar de exibi-los, por vaidade; corpo bem feito, nem era gorda nem magra, era o corpo mais comum da época, porque estávamos no início da década de sessenta. E o tempo forja o estilo, a moda, a arte, a vida. Ela devia estar na casa dos trinta, e já tinha uma filha de três anos. O marido, seu M., era um pouco mais velho, devia ter uns quarenta. Ele gostava de sair de casa à noite para jogar sueca com os amigos, principalmente aos sábados e domingos. Ela ficava sozinha a esperá-lo até tarde; só ia dormir quando ele chegava, ele quase sempre com cheiro de cigarro e de álcool. Ela pensava em fazer algo diferente, quando ele chegasse, contudo, ele caia na cama com todo corpo que beirava a obesidade, de roupa e tudo. Havia um adolescente de nome J., de quatorze anos que morava na casa, parente do marid...