Conjuntivite


Conjuntivite
O médico oftalmologista, disse: “Sr. Antonio, pode entrar”. Eu dirigi-me rapidamente à sua sala, estirei a mão para cumprimentá-lo mas ele me deu o braço e disse: “conjuntivite.” Achei que ele estivesse com a doença, por isso não me dera a mão para apertá-la. Aí ele me perguntou: “qual o problema, seu Antonio?” Eu disse: “estou com os olhos vermelhos, como se alguns vasos sanguíneos tivessem rompido.” Ele apontou uma cadeira a frente do aparelho onde o paciente coloca o queixo e fica olhando fixo para aquela luzinha. Depois do exame, ele disse: “conjuntivite. Da braba.” Agora sim, era comigo. Ele disse, após sentar-se à sua mesa e pedir-me para sentar-me em uma cadeira à sua frente: “vou receitar um colírio que vai resolver esse problema em mais ou menos cinco dias, e qualquer problema volte a me procurar.” Enquanto escrevia a receita, percebi que ele usava uma caneta-tinteiro, e de vez em quando molhava o bico da mesma em um pote de tinta ali a sua frente, voltava a escrever e, ao mesmo tempo, me orientava para como cuidar da doença. Muitos médicos usam o computador, um software de texto e digita a receita, imprime, assina, carimba e pronto. Ou então usa uma caneta esferográfica. Mas esse médico é sofisticado, usa uma caneta-tinteiro.
Um filme naquele instante passou em minha mente. Lembrei-me da carteira da minha escola, no Grupo Escolar Dr. Silva Mariz, sendo que aquele móvel não era exclusividade da minha escola; era de todas as escolas no Brasil. Havia um local exclusivo para colocar-se o tinteiro e outro para colocar-se a caneta. A nossa caneta, chamávamos de pena. Tinha o corpo de madeira, às vezes pintada, comprida e tinha cores diferentes. Tudo isso em um tempo que levantávamos quando o professor entrava na sala de aula e só voltávamos a nos sentar quando ele nos autorizava. Havia sempre uma bandeira do Brasil no canto da sala, a direita do professor, quando este estava sentado, voltado para nossa frente. Mais tarde, em anos que alguns condenam, por interesses políticos e pecuniários, aparecia em um filme oficial, em Brasília, a nossa bandeira tremulando no mastro da Praça dos Três Poderes, muito alta, que ainda hoje se vê à distância. Naquele filme, parte de um movimento da Pastoral de Beethoven homenageava o Pavilhão Nacional, enquanto este se desdobrava ao vento.
O médico tampou sua caneta, entregou-me a receita, nos despedimos cordialmente; desta vez não estendi a minha mão; posto que quem estava com conjuntivite era eu.


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