O Morro



O Morro
Ele viu-se de repente sobre um morro, de pouca altura, o vento soprava fortemente, como ventava em “(*) O Morro dos Ventos Uivantes”; o topo sem capim ou qualquer forração, só havia terra plana, só tinha capim e árvores nas encostas que desciam para alcançar a planície; era distante da cidade; aliás, ele nem via sinal da cidade. Caminhou em direção a um lugar que pudesse ter transporte para voltar para casa; ele não sabia a razão de ter chegado ali. Viu alguns adolescentes, que aparentemente voltavam da escola, carregavam mochilas presas aos ombros, perguntou a eles onde teria um ponto de ônibus. Os adolescentes o levaram para um local que era um labirinto, com paredes estreitas de pedra, daquele tipo de labirinto que nos causa aflição, asfixia e desespero para encontrarmos a saída; dando a impressão que nunca mais iríamos sair; passando pelo labirinto ele estaria no caminho do ponto de ônibus. Mas ele se perdera lá dentro e não vira mais os adolescentes. Após sair do labirinto continuou andando até chegar a uma grande praça, tão grande como a Grande Praça de Bruxelas, mas não com a mesma beleza, rodeada de prédios altos, estes formavam um muro, como se estivessem fechando as saídas e as entradas. Ele continuou procurando uma saída. Entrou em uma rua estreita que não tinha nome, não tinha placa que nomeava a mesma na esquina, como é comum ter nas cidades e foi em direção a casa, não sabia se de ônibus ou a pé. Quando, depois de muito tempo chegou a casa, entrou, viu sua esposa com uma lanterna à mão procurando alguma coisa ao lado da mesa de madeira da cozinha, ela estava com a fisionomia muito diferente, muito alterada; olhos arregalados, cabelos desarrumados, como se estivesse com muito medo, mãos tremulando, pois mau segurava a lanterna em suas mãos; contudo não disse a ele o que estava procurando, e nem ele perguntou. Ele disse: “agora que eu voltei, não levei meu celular, não deu para ligar para você de onde eu estava." Ela disse: “você não saiu de casa, estava dormindo;” eu também tive um sonho assim. “Assim, como?” Perguntou ele. Ela disse: “eu vi-me de repente sobre um morro, de pouca altura, o vento soprava fortemente.......”

P.S.: Quando um casal está convivendo há muito tempo, quase não precisa de palavras para se comunicar. Franzir o senho, o jeito de olhar; de sorrir; de pensar o que o outro está pensando; pode até sonhar o mesmo sonho.

(*) "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë.




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