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Dicionário do Aurélio

Dicionário do Aurélio Em 1975 ganhei de presente de aniversário a primeira edição do dicionário de Aurélio Buarque de Holanda. Embora haja posteriores publicações, de edições atualizadas, seguindo os acordos ortográficos dos países lusófonos e de novos verbetes, mantenho aquela primeira edição, por haver um apelo sentimental muito forte; além da dedicatória, há assinaturas de meus ex-colegas do departamento onde eu estava lotado. Alguns até não mais estão sobre a Terra. Traba lhava em uma grande companhia holandesa, na divisão de Santo Amaro, em São Paulo, Capital. Organização onde laborei por mais de vinte e três anos. É que há algumas décadas se faziam carreiras nas empresas; o empregado de muitos anos era valorizado, diferentemente de hoje; com efeito, o mercado hoje valoriza aqueles profissionais que já passaram por várias empresas; os que ficam muito tempo nos quadros de uma organização, são considerados acomodados. Havia avaliação de desempenho, mas não era um sistema de met...

Contos Que a Vida Conta

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Download deste livro (e-book) nos seguintes endereços: Amazon, Kobo, iBooks, Google e Hugendubel.de. Também na seção de e-Books das livrarias Cultura, Saraiva, etc. https://www.amazon.com.br/Contos-vida-conta-Antonio-Lins-ebook/dp/B07CWW9NG6/ref=sr_1_6?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=antonio+lins&qid=1554128902&s=gateway&sr=8-6 Você vai encontrar neste livro alguns contos curtos que comecei a escrever em 2014. Tinha quase tudo em rascunhos, em um blog ou rolando em minha mente, querendo sair, como uma erupção vulcânica.  São várias situações vividas por pessoas interessantes que conheci e convivi em Recife, Manaus, São Paulo e no sertão da Paraíba – "levo o sertão dentro de mim", como disse Guimarães Rosa. Há também ficção baseada em personagens reais, como "Adamastor", criado a partir das características de uma pessoa que conheci; já "Madrugada" foi uma lembrança de infância.  Os contos "O vaquei...

Tia Judite

Tia Judite Ultimamente tenho pensando muito nas minha tias irmãs de minha mãe, em especial de minha tia Judite; ela era uma das cinco irmãs de mãe. Embora sendo eu suspeito para falar, a achava muito bonita, educada, falava calmamente, de gestos delicados e nos permitia penetrar em seu olhar fixo e distante. Não tinha muito estudo mas tinha classe. Era magra, de feições finas, e de olhos claros. Podia vestir os vestidos mais simples, contudo lhe caíam sempre muito bem, devido ao seu corpo franzino. Ficou viúva muito nova, mas já tinha tido três filhas e não mais se casou. O seu marido foi Augusto César, homem que pouco posso dizer sobre ele; tenho dúvida se cheguei a vê-lo em vida; vê-lo sim, mas não lembrar porque eu tinha três anos quando ele faleceu. As filhas de tia Judite: Iracy, Iraides e Ivone, são todas muito bonitas e causavam muitos cometários enciumados, pelo menos quando elas iam para Marizópolis. Alguns as achavam de nariz empinado, mas creio era mesmo invej...

Um Jeito de Viver

Um Jeito de Viver “ É peculiar e educada a forma como essa minha amiga de idade na casa dos setenta se dirige às pessoas,” disse Augusto, um amigo de muitos anos, que nos últimos tempos passou a ser mais frequente e próximo: ela diz, quando inquirida, que seu modo de tratar as pessoas com esse jeito delicado, “deve ter vindo do berço”, pois ninguém lhe ensinara esses bons modos; mesmo seus pais. Dona Abigail, como é conhecida, é alta, magra, alva, cabelos brancos como a cal, sem tintura, é viúva e bonita. Enviuvara com menos de 60 anos, poderia até ter voltado a se casar, mas não se interessou, apesar de alguns pretendentes, “inclusive eu”, diz Augusto, também viúvo, em tom de brincadeira (embora por trás de toda brincadeira deva haver vestígios de verdade); “alguns interessantes”, como ela diz vaidosa. Leva uma vida quase monástica; sai pouco de casa. Os vestidos sempre lhe caem muito bem, realçando seu corpo ainda desenhado por curvas; não era mais aquele corpo em forma ...

Sousa, a cidade sorriso.

Sousa, a cidade sorriso. Morei em Sousa mais de quatro anos, de 1960 a 1964. Em 2014 andei pelas ruas dessa charmosa e sorridente cidade, relembrando minha época: da sorveteria Flor de Lis; do Cine Moderno; do Clube; das festas da Igreja-Matriz; da loja “A Magnólia”; de Dr. Tomaz, meu professor de ciências, que proferia com sua voz forte e braços gesticulantes discursos inflamados; da dona Luci, professora de matemática, que tinha um amor virtual ou platônico por Tales de Mileto; do professor Senhorzinho, do meu colégio 10 de Julho; lembrei-me do Dr. Nias, homem de grande saber jurídico e de cultura enciclopédica, bebendo cerveja na sorveteria Flor de Lis; até de Bienvenido Granda, cercado de fãs curiosos na mesma sorveteria. Esgueirei-me para ver o cantor bigodudo e até vi parte de seu show disputando uma fresta de janela, do local onde ele se apresentara; até do açude Gato Preto; e muito mais. Lembrei-me das saídas dos alunos das escolas após as aulas; das meninas do Colégio d...

Sonhos Acrofóbicos

Sonhos Acrofóbicos No cume dos penhascos, (olhando pro precipício); No alto dos edifícios, (sobre uma tábua de trampolim, oscilante); No fio de navalhas, (sem respirar, sem me mover); Caminhando sobre um fio, (sem rede de proteção); Numa escada altíssima, (caindo pra trás). Depois, um grito surdo de Münch.

O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe

O Bilhete de Passagem Aérea do Chefe Em uma reunião tensa, sem tempo para terminar, na empresa onde eu trabalhava, fez meu chefe, lotado nos Estados Unidos, me pedir para ir ao aeroporto de Congonhas, para remarcar sua viagem de volta, para mais tarde. A internet estava engatinhando não tinha algumas facilidades de hoje em dia, para resolvermos alguns problemas remotamente. Peguei um táxi e fui ao aeroporto com o bilhete e seu passaporte. Colocara os documentos em bolsos separados, como medida de segurança. Fui até ao balcão da empresa aérea e fiz tudo que tinha que ser feito. Peguei um táxi de volta, subi ao escritório. Entreguei o passaporte ao chefe. Ele me perguntou: “e o bilhete?” Eu revirei os bolsos e não o encontrei. Ele ficou bravo. “Você perdeu meu bilhete, como isto pode acontecer?” Eu respondi que tudo indicava que eu perdera, e que voltaria imediatamente ao aeroporto para ver como resolver o problema. O bilhete poderia ser reemitido, mas de qualquer forma seria um tran...