Furtaram meu relógio


Furtaram meu relógio.

Por ter passado de ano(não fizera mais que minha obrigação!) meu pai me presenteara com um relógio de marca “Ernavin”, dourado, mas não era de ouro, tampouco densamente banhado por esse metal precioso; também não era um “Roscopf” ou “Roscofe", aportuguesado. O Roscofe era um relógio, àquela altura dos anos sessenta, barato e de má qualidade. Ás vezes, por brincadeira, alguém dizia: “Que horas são aí no seu Roscofe?” Era uma ofensa para quem tinha um bom relógio.
Usava aquele relógio quando saía para ir a escola, a festas, e à noite para dar minhas paqueradas ouvindo o som da difusora de seu Otacílio, na Praça Francisco Braga; ou seja, em ocasiões especiais.
Certo dia procurei meu relógio no guarda-roupa, no bolso de um paletó, lugar que sempre o guardava; creio que era meu paletó branco usado na primeira comunhão. Para minha surpresa não o encontrei, e procurei por todos os cantos da casa e nada do relógio. Passado alguns dias, meus pais decidiram consultar o rezador, curandeiro, benzedor, devoto de São Geraldo Magela, José Alves de Moura, conhecido na região como Zé de Moura. Pessoa muito popular no sertão paraibano e cidades vizinhas no Ceará. Dava suas consultas em sua residência e não cobrava nada pelo serviço.
Zé de Moura (falecido em julho de 1966) é da linhagem direta do fundador do povoado, um vaqueiro de nome Gonçalo de Moura, que veio de Icó, no Ceará a mando de sua patroa dona Tomásia de Aquino, procurar pastagens para o gado bovino, devido a seca de 1824. Pois bem, o povoado que tinha o nome de “Poço”, devido a cacimba encontrada por Gonçalo, às margens do Rio do Peixe, foi emancipado de Antenor Navarro em 1994, com o nome “Poço José de Moura”, para homenagear o homem que tornou a cidade famosa.
O fato é que meus pais explicaram ao sr. Zé de Moura o acontecido com meu relógio. Depois de algumas perguntas o consultor disse: “o relógio foi furtado por uma pessoa conhecida de vocês, e esta irá colocá-lo no mesmo lugar onde o encontrou.”
Uns dias se passaram, e eu, sabendo da profecia do, digamos vidente, ia todos os dias checar o bolso do paletó. Um belo dia o relógio apareceu, no mesmo lugar de onde fora retirado, sem nenhum arranhão, funcionando e com a hora certa. A pessoa era meticulosa, manteve o relógio funcionando, dando-lhe corda, para que não parasse. Coincidência ou não, o Sr. Zé de Moura acertou em cheio na mosca.
Contando essa história naquela época, as pessoas diziam que ele teria rezado, e a reza teria mexido com a cabeça da pessoa que fez o furto, fazendo-a se arrepender. A pessoa entrou duas vezes em minha casa: a primeira para subtrair o relógio; e a segunda, para devolvê-lo; e, pasmem, ninguém a viu entrar ou sair.
É difícil explicar essas coisas sobrenaturais, fica em nível da crença e da fé de cada um.


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