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Um pouco de conversa

  “ Só os tolos estão sempre cheios de convicção, enquanto os sábios estão cheios de duvidas” disse Bertrand Russell. Amanheci pensando na citação acima, de um filósofo e matemático que gosto de ler. E fez-me lembrar também de um chefe que tive, negro, jornalista, já falecido: Sr. Hélio Conceição de Sá. No final dos anos sessenta, eu trabalhava em uma seção do departamento de propaganda e marketing de uma empresa conhecida no mercado brasileiro e externo que fabricava forros de tetos e divisórias, e o Sr. Hélio, como o tratávamos, era o gerente desse departamento. A seção a que me refiro, ficava em outro prédio, na mesma avenida, porque tinha amostras dos produtos, copiadora e máquina de impressão de folhetos comerciais. Usando essa impressora, imprimíamos também o “Nosso Jornal”, assinando como jornalista responsável, o Sr. Hélio; e nós contribuíamos com artigos e crônicas. Todos os dias, antes de ir para seu escritório, onde ficava a diretoria e os aci...

“A Península”

“A Península” Aquela extensão de terra que nós chamávamos de ilha, ainda que cercada de água por três faces, na represa de São Gonçalo/PB, é na realidade uma península; faz parte de um arrendamento que meu pai tinha há muitos anos e que hoje é de um de meus irmãos. A parte que, digamos assim, é ligada ao “continente” é cercada, e com porteira, e comunica com as terras de outro rendeiro, fato este que quando trazíamos o gado diariamente para o curral, tínhamos que transitar pelo arrendamento vizinho usando-nos de um acordo tácito que às vezes era questionado. A terra da península é elevada, comparado ao arrendamento principal, e no centro, como se fosse um mastro com uma bandeira, havia uma árvore frondosa que, se me lembro bem, era um juazeiro. Eu sentia, quando adolescente, grande encanto por aquela pequena extensão de terra e não atentava para o aspecto geográfico de ser uma ilha ou uma península. Havia plantações de milho, algodão e feijão, etc, no período das chuvas. As vacas leite...

O Templo

Quando vi aquele templo católico de colunas greco-romanas demolido, e em seu lugar um prédio que mais parece “um shopping center”, também católico, deu-me uma sensação desagradável de descrédito e de desânimo. Eu não mais morava naquela cidade há muitos anos, há décadas, por quê teria eu aquela preocupação? Bom, o padroeiro é Santo Antonio. Quando éramos crianças íamos às missas, fazíamos a primeira comunhão, crisma, lá; também as festas, quermesses, do padroeiro, em Marizópolis /PB. Muitas vezes o pároco, em exercício, almoçava lá em casa e em casa de meus tios. Quando saiu a notícia e as fotos no Facebook, reclamei muito. Já não havia mais jeito, a Inês já era morta. Aí um senhor disse que eu não entendia nada de igreja. Eu respondi que a igreja continuava, independentemente do prédio, já que uma igreja é uma reunião de pessoas que tem a finalidade de comungar suas crenças, de rezar. Ele não replicou. Fico chateado quando vejo sobrados e vilas destruídos, para dar lugar a prédios de ...

Natal

Não tínhamos muito interesse pelo Ano Novo, festejávamos mais o Natal; para nós havia razões para seguir o que os padres e pastores pregavam. Mas as coisas foram mudando, aos poucos, em pequenas doses, em um tempo que não está tão longe. Não sei porque as Igrejas não conseguiam manter as pessoas no âmbito das religiões. Não tem nada a ver com progresso, “isso não é progresso, isso é tentação do diabo” assim dizia seu João da bodega. E seu João apontava para pintura de Cristo crucificado, pendurada na prateleira dizendo para seus fregueses que bebiam cachaça com raiz de catuaba: “este homem nos salvou” e todos, concordavam e, por respeito, tiravam os chapéus das cabeças. Íamos para as igrejas católica e Batista, porque a família, àquela altura, estava dividida(não era uma divisão exata, havia mais parentes na Igreja Católica) pois tínhamos avós nas duas religiões. Chamavam os protestantes de “bodes”, muito antes do “politicamente correto”. Em um dos livros do Jorge Amado, não me lembr...

Salada Paulista & Outros

Salada Paulista & Outros   Eu ia com muita freqüência à Salada Paulista na Avenida Ipiranga e na Avenida São João. Nem preciso dizer onde estão localizadas estas duas famosíssimas avenidas, cantadas em músicas, versos e prosas, principalmente aos domingos. Eram restaurantes que serviam refeições em  grandes e altos balcões, em forma de um "U"; eram práticos, rápidos, baratos, e lotados. Gostava muito da macarronada (espaguete) com frango, molho de tomate e queijo parmesão ralado; também da sopa, à noite depois do cinema. Outro restaurante do tipo da Salada Paulista era um que ficava na Av. Rio Branco, próximo do Largo do Paissandu, cujo nome não lembro, neste também havia vários tipos de pratos, mas o que eu mais gostava era o “Risoto à Catarina” (homenagem a florentina Regina Cathêrini di Médici): arroz(acho que não era arroz arbóreo, da receita original), peito de frango cozido, desfiado e cortado em pequenos pedaços, moela de frango cortada em quadradinhos, ervilha, ce...

A Prévia

“A Prévia” Era um bar em Manaus que tinha este nome porque reunia mais pessoas às quartas feiras. Como era um dia no meio da semana, diziam os freqüentadores que era uma prévia do fim de semana. Havia comentários que alguns freqüentadores iam lá no bar para discutirem e oporem-se a política de promoções, desligamentos e problemas salariais das empresas sediadas na Zona Franca. Diziam que faziam “panelinhas”. Tendo em vista que os cargos executivos eram ocupados por empregados transferidos, principalmente de São Paulo, conhecidos como “expatriados”. As cervejas servidas naquele bar eram muito boas, tais como as marcas Cerpa(do Pará) e a Cerma(do Maranhão). A Cerpa, em minha opinião, é a melhor; comercializada em meia garrafa como fazem a Heineken, Stella Artois, etc. Haviam também as marcas nacionais, e a melhor delas era a Antártica que dizem que era destilada com a água local. Serviam também os peixes da região: pirarucu, tambaqui, tucunaré, jaraqui, “et cetera”. O jaraqui era o mais...

O Louco

O Louco Naquele dia numa manhã de verão uma mulher olhou para a calçada, atrás da cortina da janela de seu apartamento no primeiro andar de um prédio, e viu um homem, seu conhecido e vizinho, sentado no meio-fio da calçada, falando e gesticulando sozinho, falando ao vento, e alto. Era uma figura presente e conhecida dos moradores daquela rua. (O prédio que a mulher morava, curiosamente, tinha o número final que era a soma dos dois primeiros). Certo dia a mulher estava incomodada e impaciente, desceu e disse: “olha, você é um louco daqueles que jogam pedra na lua; eu quero lhe dizer que eu sou mais louca que você, às vezes fico enfezada sem nenhum medo de você e posso bater-lhe nessa cara suja”. “Está me entendendo? Disse ela”. Aquele louco, tinha boa memória, conhecia e lembrava de quase todos moradores da rua, inclusive de alguns nomes e sobrenomes, em momentos falava dos vizinhos como se estivesse qualificando um personagem. Ele falava como se alguém estivesse à sua frente: “olha ful...