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A Prévia

“A Prévia” Era um bar em Manaus que tinha este nome porque reunia mais pessoas às quartas feiras. Como era um dia no meio da semana, diziam os freqüentadores que era uma prévia do fim de semana. Havia comentários que alguns freqüentadores iam lá no bar para discutirem e oporem-se a política de promoções, desligamentos e problemas salariais das empresas sediadas na Zona Franca. Diziam que faziam “panelinhas”. Tendo em vista que os cargos executivos eram ocupados por empregados transferidos, principalmente de São Paulo, conhecidos como “expatriados”. As cervejas servidas naquele bar eram muito boas, tais como as marcas Cerpa(do Pará) e a Cerma(do Maranhão). A Cerpa, em minha opinião, é a melhor; comercializada em meia garrafa como fazem a Heineken, Stella Artois, etc. Haviam também as marcas nacionais, e a melhor delas era a Antártica que dizem que era destilada com a água local. Serviam também os peixes da região: pirarucu, tambaqui, tucunaré, jaraqui, “et cetera”. O jaraqui era o mais...

O Louco

O Louco Naquele dia numa manhã de verão uma mulher olhou para a calçada, atrás da cortina da janela de seu apartamento no primeiro andar de um prédio, e viu um homem, seu conhecido e vizinho, sentado no meio-fio da calçada, falando e gesticulando sozinho, falando ao vento, e alto. Era uma figura presente e conhecida dos moradores daquela rua. (O prédio que a mulher morava, curiosamente, tinha o número final que era a soma dos dois primeiros). Certo dia a mulher estava incomodada e impaciente, desceu e disse: “olha, você é um louco daqueles que jogam pedra na lua; eu quero lhe dizer que eu sou mais louca que você, às vezes fico enfezada sem nenhum medo de você e posso bater-lhe nessa cara suja”. “Está me entendendo? Disse ela”. Aquele louco, tinha boa memória, conhecia e lembrava de quase todos moradores da rua, inclusive de alguns nomes e sobrenomes, em momentos falava dos vizinhos como se estivesse qualificando um personagem. Ele falava como se alguém estivesse à sua frente: “olha ful...

Um dedo mindinho de conversa

Há trinta anos a "estradinha" que usamos para acessar a Rodovia Raposo Tavares, quando mudamos para esta região, era esburacada, não havia casas residenciais e os prédios eram de uma padaria, de um supermercado e de uma loja de material de construção. Havia muitos eucaliptos, pinheiros e algumas árvores da Mata Atlântica. De ambos os lados da estradinha víamos cavalos e bois pastando; e era um bom pasto alimentando animais muito bonitos. Não havia iluminação adequada, um poste aqui outro acolá com lâmpadas que não iluminavam direito. Eram glebas, originadas de uma fazenda, que estavam sendo exploradas e vendidas pelos herdeiros. As pinhas se espalhavam pelo chão e na época do Natal as catávamos para enfeitar nossa árvore e fazer arranjos e guirlandas. Ainda restam alguns pinheiros que produzem pinhas, que além dos usos que fazemos no Natal, também ajudam muito na hora de acender a churrasqueira e a lareira(no inverno). (As folhas dos eucaliptos não têm o perfume daqueles que ...

Em algum lugar, com um celular

Em algum lugar, com um celular   Pois a mulher estava olhando a tela do celular, no meio da rua, parada sobre umas faixas zebradas, cercadas por “tartarugas”; aqueles objetos amarelos, com placas refletoras, fixados ao asfalto, sinalizadores de trânsito, que os motoristas reclamam quando passam por cima delas, por causarem desbalanceamento das rodas podendo até fazer avarias nos pneus e também afetar a suspensão dos carros. Ela vestia um roupão, cor-de-rosa-claro, amarrado à cintura por um cinto do mesmo tecido, por cima de uma blusa e da calça comprida, que descia até o meio das panturrilhas; calçava sapatos pretos de salto alto e por vezes girava a perna usando um dos saltos. Ela era alta, loira, cabelos (aparentemente) pintados que desciam até os ombros, bem penteados, porém não dava para ver seu rosto porque ela estava quase de costas para o observador. Ela passava sobre a tela do aparelho o dedo indicador da mão direita enquanto que com a mão esquerda o segurava. E a mulher co...
  Resposta ao meu irmão, um autodidata, importante intelectual, que já leu muito mais do eu e do que muita gente, que agora está lendo “O Capital” de Carl Max. … ........................................................................................................... Tenho uma coleção dos economistas que foi publicada pela Editora Abril há alguns anos. Nessa coleção tem “O Capital” em dois ou três volumes. Nunca li “O Capital”. Li Marshal, Celso Furtado, Adam Smith, etc. Mas Marx nunca li. Já li alguns trabalhos sobre Marx de alguns economistas brasileiros. Veja, é uma posição muito pessoal: eu não acho o Marx atualizado para os dias de hoje. Tenho medo de começar a ler e me desmotivar pelo fato de ele não ser atual. Muitos historiadores são marxistas, analisam a história sobre esse ponto de vista, como o inglês Hobsbawn, porque as universidades ainda carregam essa coisa de analisar a história do ponto de vista marxista. Acho meio saudosista, e o saudosismo não leva a nada...

Férias em Porto Seguro

Férias em Porto Seguro. Os raios solares tentavam perfurar as nuvens insistentemente, como se teimassem com a nossa importante estrela da Via Láctea, porém as nuvens tornavam-se mais densas e escuras. As jovens prontas, vestiam biquínis e outras maiôs de corpo inteiro, agitavam-se impacientes. Afinal estavam em férias, pagaram passagem e hotel com suas economias, com seus exigentes trabalhos. Os jovens tinham uma alternativa para driblar a falta do sol: andar pela cidade, entrar em um restaurante beber e saborear as iguarias da culinária local. Porto Seguro, berço de nascimento do Brasil, oferece alternativas e o mar continuará lá, imponente, para os próximos dias. Porém, as moças foram para aquela bela cidade para oferecer seus corpos ao sol e ter de volta, como prêmio, o corpo bronzeado, de forma que, quando voltassem para os escritórios em São Paulo, vestiriam roupas leves e decotadas para exibirem seus bronzeados. Para elas o sol estaria sempre presente naquela região e nun...

Meninice

Em minha meninice, a despeito de protestos, principalmente de minha mãe, eu aprendi e também meus irmãos e amigos, muita sacanagem e coisas boas com os chamados, naqueles anos cinquenta, de “moleques” de rua. Não eram os conceitos e definições aplicadas hoje em dia, eram meninos e meninas que tinham casas, pais, mas que brincavam na rua. Jogávamos futebol com bolas de meia e conseqüentes ferimentos nos dedos; brincávamos em montes de areia de construções e chegávamos em casa com a cabeça “que era areia só"; de passar o anel e adivinhar com quem ele estava, e aqui as meninas participavam e deixávamos o anel com aquelas que mais gostávamos(com um devido e discreto piscar de olho), tomávamos banho na chuva, inclusive as meninas de vestidos molhados, revelando suas belezas. Fazíamos competições de punhetas, para quem gozava e jogava a gala mais longe. Estávamos na puberdade, as meninas acabavam sabendo dessa competição, e nos olhavam com olhares enviesados, dissimulados, como Capitú ...