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Bebida

Bebida Será que as coisas que falamos nos bares ou mesmo em casa, depois de duas doses de whisky, ou alguns copos de cerveja não são as mais sensatas, as mais coerentes, as menos hipócritas e certas? Porque não temos coragem de falar sobre alguns assuntos quando estamos sóbrios, só quando bebemos? Por mais que digam que não, eu creio que quando bebemos falamos com mais facilidade, perdemos a timidez. Não podemos beber muito ao ponto de perdermos a razão, há um limite calculado pelo nosso corpo para cada um de nós; uns mais outros menos. Por que, para fazermos um discurso alguns de nós precisamos beber uma dose de whisky, de pinga ou seja lá do que for? Antes do amor uma taça de vinho, não mais; beber muito provoca sono e é brochante; põem-se tudo a perder. Meu pai, quando tinha uma notícia ruim para dá, para algum amigo ou alguém da família, convidava a pessoa para beber. Depois de algumas doses ele dizia: meu amigo, tenho uma notícia ruim para lhe dá, e dava a notícia ruim...

O Jantar

O Jantar O diretor de vendas bateu com um garfo na taça de vinho tinto de boa qualidade, ergueu-se, arrumou a gravata, temperou a garganta, levantou a taça para o alto, a altura de sua cabeça e disse entusiasmado: “estamos aqui reunidos nesta noite fria, para celebrar a assinatura de um adendo contratual com a “Company” que deverá corrigir os resultados negativos do contrato principal e ainda gerar lucro”. A informação provocou de imediato sorrisos de satisfação dos presentes. O contrato a que ele se referia, arrastava-se há anos com prejuízos financeiros e problemas técnicos, com os argumentos recorrentes de que tratava-se de um contrato estratégico, para conseguir fechar negócios com outras empresas. Entre as mais de vinte pessoas presentes a aquele jantar, em um restaurante no bairro San Telmo, em Buenos Aires, também estavam presentes pessoas das unidades da empresa em outros países da América Latina; também participava um empregado do departamento financeiro, bem a par da si...

Colidi em um poste

No dia 31 de dezembro de 2019, fui ao supermercado comprar algumas poucas coisas que faltavam para o reveillon. O supermercado já estava quase fechando, a porta estava aberta pela metade e eu passei por baixo dela com o corpo torto. Havia mais pessoas dentro da loja, na fila do caixa; como sempre coisas de última hora. Paguei as compras, entrei no carro, engatei a ré e ouvi o sensor de ré apitar e piscar insistentemente, achei que fosse devido a um carro que passava atrás naquele momento, mas não tão próximo; só senti o impacto do para choque traseiro em um poste, um som seco e cheio, como a queda de um corpo; "um corpo que cai." Devido ao chamado ponto cego, não enxerguei o poste. Aquele poste já está marcado de várias cores dos carros devido as constantes colisões, e essa foi a segunda vez que colidi nele. Desde a primeira vez sempre estaciono longe daquele "maledeto", mas desta vez esqueci e ..... bum! Fui embora, porque não adiantava nada descer e olhar o estr...

O ônibus

Há algumas informações gravadas no cérebro que são difíceis de saber-se se aconteceram ou se foram sonhos; ou ainda, como se diz em Inglês: “Wishful Thinking”; igualmente com alguns arquivos em computador que mantêm-se guardados para quem sabe um dia acessar-se; a diferença é que no computador pode-se deletá-las permanentemente quando desejar-se, enquanto que as do cérebro fica-se toda a vida lembrando, basta alguma palavra-chave e pronto. A estória seguinte está latente há muito tempo, remete a minha infância : O ônibus estacionou em frente a casa de meu avô paterno, no terreiro arenoso; tinha aquele tipo de carroceria antiga, de cantos arredondados e janelas de vidro pequenas, ovais; a boleia, o capô e o motor localizavam-se na parte dianteira. Era como se a carroceria tivesse sido montada em cima do chassi de um caminhão, mantendo a dianteira original. Havia uma escada na parte traseira, que subia em direção ao teto e dobrava para alcançar o bagageiro. O ajudante do motoris...

Cobrador

Cobrador Meu pai não gostava de cobrar as contas dos fregueses para quem ele vendia fiado, sobrava para nós filhos fazermos esse trabalho. E para nós era uma atividade desagradável, mas não podíamos deixar de fazer. Eu achava um absurdo chegarmos ao ponto de cobrar dívida de um freguês, todo mês; raramente vinham saldar seus compromissos espontaneamente. Eu ficava pensando em uma folhinha do calendário anual que mostrava um comerciante que vendia fiado: magro, barbudo, triste, acompanhado de um cachorro esquelético; por outro lado, outro comerciante que só vendia à vista: gordo, de barba raspada, alegre e o cachorro gordo. Havia alguns estabelecimentos comerciais que exibiam uma placa com a frase: “fiado, só amanhã.” Mas era difícil um comerciante sem “pendura”, sem caderneta. Chegava no cidadão e dizia: “meu pai pediu-me para receber a conta”, e falava o valor, exibindo uma caderneta. Às vezes o freguês pedia-me para passar outro dia, ou na semana seguinte. Quer dizer, ele...

Pai Tonho

Pai Tonho Aquele dia que visitamos o meu avô paterno, Pai Tonho (como nós netos o tratávamos), na década de setenta, eu sentira que seria a última vez que o veria; éramos recém casados: minha mulher e eu. Ele era viúvo, minha avó Mãe Iaiá(também, nós netos a tratávamos de mãe), havia falecido há poucos anos. Ele estava sentado em sua rede de tecido xadrez de várias cores vivas. Os mesmos cabelos brancos, ralos, deitavam sobre a cabeça; rosto de muitas dobras e rugas; mãos que exibiam, como documentos, as provas de longevidade e muito trabalho pesado. Estava com mais de noventa anos e enfrentava os duros efeitos de um diabetes tipo dois e da demência ou caduquice, em uma época que não havia muitos remédios, e os médicos que raramente o atendiam, porque morava em um sítio longe dos centros urbanos, apesar de bons, eram clínicos gerais. Ele perguntou para minha tia Mimosa: "quem é?" Ela respondeu "é Genival" É por este nome que sou conhecido naquelas bandas do se...

Elisabete

Elisabete Algo estranho acontecera a Elisabete naquela manhã de sábado, às seis horas. Ela acordara e levantara-se rápido, ouvira algumas pessoas conversando, no entorno um silêncio profundo, ouvia-se apenas barulho de talheres, louças, xícaras, pires. Ela abriu uma parte da cortina e da janela de seu quarto em um prédio de três andares, em um condomínio de prédios padronizados, e olhou para baixo. Estava frio e ventando bastante em meados do outono; no entanto, havia três homens sentados a uma grande mesa de madeira, coberta por uma toalha branca rendada, sobre um gramado bem cuidado, vestidos de ternos pretos e gravatas brancas; no meio deles um rapaz vestia-se um pouco diferente dos demais, era também um terno preto, contudo a camisa era branca e gravata rosa; na lapela uma rosa champanhe. Comiam rapidamente, de cabeças baixas, olhando para os pratos, como se tivessem pouco tempo ou estivessem famintos. Os três homens estavam de costas para ela que olhava da janela, sendo...