Dona Maria do Carmo

Dona Maria do Carmo
Dona Maria do Carmo era professora, morava na casa que fora habitada por Zuca Alcindo; a última casa daquela rua de Marizópolis, lado esquerdo de quem olha em direção a São Gonçalo. As ruas, àquela altura, não tinham nome, nem número. Aliás, um local que tinha nome era a Rua das Queimadas, não porque o poder público nomeou, mas porque o povo assim se acostumou a chamar aquele local.
Ela veio de Sousa com a família: seu marido, Raimundo; seu pai, Sr. Emílio; e seus três filhos: Francisco, Breno e Marcos. Era da família Santiago, creio que de origem espanhola; e não dava para esconder a sua descendência européia porque estava estampada na face e nos olhos claros, deles todos. Ela era bonita, mais alta que a média, nariz adunco, e era uma mulher educada, porém de personalidade forte. Conheci também o irmão dela(creio que era Celso) que ficou em Sousa, o qual de vez em quando vinha a Marizópolis visitar a irmã. Ele participava de um bloco de carnaval de Sousa, e no período dessa festa popular, o bloco vinha desfilar pelas ruas de Marizópolis, e nós, meninos fazíamos a festa e acompanhávamos o bloco dançando.
Dona Maria do Carmo foi minha professora; o local das aulas era em uma sala da casa dela. Como era comum naquela época uma professora lecionava história, geografia, português e matemática; passava exercício, ditado e leitura. 

Quando eu precisei estudar o curso Admissão ao Ginásio, ela me levou junto com Francisco, seu filho mais velho, para fazermos matrícula no Ginásio 10 de Julho, do Professor Senhorzinho, em Sousa. Ela conhecia de longa data o professor, e disse: “trouxe também esse menino para fazer matrícula.” Ele perguntou: “ como é seu nome, garoto?” Eu respondi: “Genival.” Embora o nome Genival fosse comum, pela geografia do Sertão paraibano, ele se admirou! Ele disse: “já tivemos aqui um Genival, que fazia jus ao nome, era um gênio, espero que você também seja!" Disse caçoando. Eu nada respondi. Veja que coisa, o professor não pediu a mim nem a ela nenhum documento, e fez a matrícula com o nome Genival Lins de Sá. Caso ele tivesse pedido minha certidão de nascimento veria que o meu nome era Antonio Lins dos Santos; também registrado errado, pois meu nome correto seria Antonio Lins de Sá. A matrícula foi feita e durante todo curso Admissão eu era chamado de Genival, saia o boletim com as notas, com esse nome; creio que o conserto, para o nome correto, só fora feito quando ingressei no Ginásio. Meus colegas que também entraram no ginásio, no ano seguinte, não entenderam, me perguntavam se eu havia mudado o nome.

Os filhos de Dona Maria do Carmo eram meus amigos, jogávamos futebol, com bola de meia e descalços, no terreiro da casa em que eles moravam. De vez em quando chutávamos a bola junto com pedras e lavávamos os ferimentos com salmoura ou água oxigenada.

As vezes que visitei Marizópolis, após me mudar para Recife e São Paulo, nunca mais reencontrei essa boa gente. Pelo andar da natureza, que regula e norteia nossas vidas, Só Francisco, Breno e Marcos estariam vivos.

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