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O xixi era amarelo

O xixi era amarelo Naquela época o xixi era amarelo, tinha cheiro forte, todavia não se falava em desidratação. Bebíamos água quando sentíamos sede; podia ser que até bebêssemos mais de dois litros de água por dia, mas não tínhamos essa neurose de beber água sem sentir sede. E a vida era assim, andava muito bem assim. Devido ao clima quente beber água, por razões óbvias, era imprescindível. Quando crianças costumávamos apostar quem fazia xixi formando um arco mais alto, um arco como o arco íris de uma cor só: amarelo. As meninas, nossas amigas, não conseguiam fazer a mesma coisa e nos chamavam de bobos, porém com certo respeito pelos feitos dos machos. Elas faziam coisas mais inteligentes, não se preocupavam com brincadeiras bobas. Mas não sei porquê riam, quando sabiam, daquelas nossas brincadeiras; como sempre, por trás do riso delas havia sempre um bocado de mistérios. Os meninos falavam que a força do xixi das meninas era tão forte que fazia um furo no chão, tão profundo como um...

Blow up

“Blow up” foi um dos filmes que não esqueci. Produzido em 1966, devo ter visto em 1967/68, porque nessa época as novidades não chegavam por aqui tão rápido. Foi no cine Metro na Avenida São João. Havia lido sobre o filme antes dele ser exibido no Brasil. De um diretor que não precisava apresentação: Michelangelo Antonioni e produzido por Carlo Ponti ex-marido de Sophia Loren. Protagonistas que a partir desse filme tornaram-se muldialmente famosos: David Hammings e Vanessa Redgrave. A alemã Veruschka era uma modelo que fazia seu próprio papel, mas também tornou-se conhecida por conta do sucesso mundial desse filme. O filme foi baseado no conto de Julio Cortázar: “Las Barbas del Diablo.” O título do filme foi alterado no Brasil, ficou meio estranho, parte em Inglês e parte em Português: “Blow Up, depois daquele beijo.” Tentei rever no YouTube, mas havia só um trailler.  

Crônica Raivosa

Crônica Raivosa   É um pensamento, um espasmo, um desabafo, uma tosse de engasgado, neste último dia do ano 2020. Não temos nada a comemorar o ano que finda, a não ser o fato de termos aprendido à duras penas a viver nos manobrando, nos escondendo, nos privando do bem maior que é a liberdade. (Com efeito, também aprendemos com as desgraças). Um ano que apareceram pseudos cientistas, palpiteiros de toda sorte, cada um de peito estufado, tentando explicar o que não é explicável. Houve, sem dúvida, os profissionais sérios, que muito nos ajudaram; poucos, como tudo que é bom neste país é pouco; e o que é ruim transborda. Condenaram remédios existentes há mais de quarenta anos, como vilões, por falta de provas, de certificações, como se codificassem crimes. Aos poucos estamos descobrindo as mentiras, as maracutaias. Os referidos remédios(muito baratos, geram poucos lucros), não são a salvação da Pátria, tanto quanto uma vacina feita em dez meses; esta, com lucros vultosos. A mídia, com ...

Conjugação verbal

Ultimamente estou muito reclamador, dizem que é por causa da idade; acho que não, porque minha cabeça anda à frente de meu corpo, situação que não é um privilégio meu, há muitos na minha condição; mas reclamando por ver nossos valores aos poucos serem desrespeitados. São várias as situações que me afligem por ter estudado em escolas formais há algumas décadas atrás. Meu consolo é que tenho alguns amigos e familiares que comungam com meus sentimentos de tristeza. Uma das minhas insatisfações é com a língua(nem quero falar dos acordos lusófonos), que em minha época não havia essa coisa de língua culta, colocando num pedestal de desprezo o falar em Português correto. Veja, não sou uma sumidade na língua de Camões, tenho as minhas limitações. Entretanto, na hora de escrever ou se estiver me dirigindo a uma autoridade, tenho que tomar cuidado ao escrever ou ao falar. Vejo algumas entrevistas em que jornalistas fazem perguntas a profissionais da saúde, da área legal ou financeira; pessoas d...

Simplicidade

Talvez estejamos, pelo menos neste ano, a propósito da Pandemia, com o sentimento que nos remete as origens, a simplicidade de um presépio. É, penso. E não faz muito tempo que o Natal em nossa família era muito simples como simples é um presépio; limitava-nos a comer um assado, uma ave, criada em nosso quintal, vestir a melhor roupa que podíamos ter e irmos à igreja ouvirmos a missa em Latim. E o cristianismo, fundamentalmente, pede simplicidade.  (Trabalhei em uma empresa que fazia  propaganda de seus produtos falando em "simplicity". Uma simplicidade de não querer-se reinventar a roda. Tudo que era feito passava por crivos de funcionamento e de praticidade. Uma instrução, uma diretriz, tinha que ser entendida por todos, desde o empregado mais simples na escala hierárquica até o mais graduado). A igreja católica não ministra mais a missa em Latim. Eu, particularmente, acho que foi uma perda, porque, embora poucos entendessem, era bonita, remetia-nos as origens do cristianism...

Fumacinha

Hoje, 6 de dezembro de 2020, acordei cedo, movido por um pensamento de ontem, como se fosse uma fumacinha que se ver no início ou após os incêndios, mas que não damos a atenção devida e acontece o pior; de assunto que não foi totalmente resolvido e parece-me nunca será. Nunca será porque a maior parte de nosso povo não dá atenção à política porque foi doutrinada a não gostar dessa ciência; povo mantido sem educação propositalmente, exatamente para ficar alheio, apático, aos acontecimentos políticos deste País. Com efeito, dar a impressão que fazem política suja para desestimular o povo. A fumacinha é a tentativa de reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Que eles próprios deveriam tratar com respeito e honestidade, que deveriam ler o texto que está claro, não dar outra interpretação, a não ser a que está escancarada na Carta Magna; e sem ter que demandar o Supremo à procura de camuflagem. A meu ver, quando chega uma demanda no STF, se for inconstitucional, não deveria ser co...

"Snapshot"

"Snapshot"   Descendo a São João, Domingo de sol de outono, em direção ao Anhangabaú, a fome do almoço chegando e o cheiro de churrasco grego dando água na boca. O casal hippy, alheio a quase tudo, em direção contrária: no estilo de vida e na avenida. Herb Alpert and The Tijuana Brass, tocando "The Lonely Bull" na loja de discos da galeria. Era dia de jogo no Pacaembu, o coração palpitava, o Timão ia jogar. Um jornal exposto na banca, daqueles que "quando espremia saia sangue" mostrava os crimes da "boca do lixo." Parecia que tudo estava pra acontecer em minha avaliação de jovem. Gelava a alma o panorama traçado pelos futuristas Herman Kahn, Alvin Toffler, "displayed" nas livrarias.