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Rua Dezesseis

A Rua Dezesseis, em São Gonçalo/PB era, com efeito, famosa nas décadas de sessenta/setenta. Era bonita, casas térreas padronizadas para funcionários do governo, com muitas árvores, em maior parte de fícus frondosos, jardins, pavimentada de paralelepípedos e postes com luz plantados no meio da rua. Lá moravam agrônomos, técnicos, veterinários e funcionários graduados do DENOCS, que trabalhavam em experiências agrícolas, na manutenção, orientação aos rendeiros e fiscalização da chamada “Bacia do Açude de São Gonçalo”. Quando ia à casa de meu avô materno, que ficava à margem da represa, via fiscais passarem em canoas motorizadas em direção a nascente do Rio Piranhas, que deu origem ao açude ou represa de São Gonçalo. Sou de São João do Rio do Peixe/PB, porém fui criado em Marizópolis e, devido a proximidade, sempre havia motivos para ir a São Gonçalo. No Carnaval íamos aos bailes do Catete, local onde também ainda há um bom restaurante e o melhor tucunaré frito que fazem na região. ...

Um pouco de conversa

  “ Só os tolos estão sempre cheios de convicção, enquanto os sábios estão cheios de duvidas” disse Bertrand Russell. Amanheci pensando na citação acima, de um filósofo e matemático que gosto de ler. E fez-me lembrar também de um chefe que tive, negro, jornalista, já falecido: Sr. Hélio Conceição de Sá. No final dos anos sessenta, eu trabalhava em uma seção do departamento de propaganda e marketing de uma empresa conhecida no mercado brasileiro e externo que fabricava forros de tetos e divisórias, e o Sr. Hélio, como o tratávamos, era o gerente desse departamento. A seção a que me refiro, ficava em outro prédio, na mesma avenida, porque tinha amostras dos produtos, copiadora e máquina de impressão de folhetos comerciais. Usando essa impressora, imprimíamos também o “Nosso Jornal”, assinando como jornalista responsável, o Sr. Hélio; e nós contribuíamos com artigos e crônicas. Todos os dias, antes de ir para seu escritório, onde ficava a diretoria e os aci...

“A Península”

“A Península” Aquela extensão de terra que nós chamávamos de ilha, ainda que cercada de água por três faces, na represa de São Gonçalo/PB, é na realidade uma península; faz parte de um arrendamento que meu pai tinha há muitos anos e que hoje é de um de meus irmãos. A parte que, digamos assim, é ligada ao “continente” é cercada, e com porteira, e comunica com as terras de outro rendeiro, fato este que quando trazíamos o gado diariamente para o curral, tínhamos que transitar pelo arrendamento vizinho usando-nos de um acordo tácito que às vezes era questionado. A terra da península é elevada, comparado ao arrendamento principal, e no centro, como se fosse um mastro com uma bandeira, havia uma árvore frondosa que, se me lembro bem, era um juazeiro. Eu sentia, quando adolescente, grande encanto por aquela pequena extensão de terra e não atentava para o aspecto geográfico de ser uma ilha ou uma península. Havia plantações de milho, algodão e feijão, etc, no período das chuvas. As vacas leite...

O Templo

Quando vi aquele templo católico de colunas greco-romanas demolido, e em seu lugar um prédio que mais parece “um shopping center”, também católico, deu-me uma sensação desagradável de descrédito e de desânimo. Eu não mais morava naquela cidade há muitos anos, há décadas, por quê teria eu aquela preocupação? Bom, o padroeiro é Santo Antonio. Quando éramos crianças íamos às missas, fazíamos a primeira comunhão, crisma, lá; também as festas, quermesses, do padroeiro, em Marizópolis /PB. Muitas vezes o pároco, em exercício, almoçava lá em casa e em casa de meus tios. Quando saiu a notícia e as fotos no Facebook, reclamei muito. Já não havia mais jeito, a Inês já era morta. Aí um senhor disse que eu não entendia nada de igreja. Eu respondi que a igreja continuava, independentemente do prédio, já que uma igreja é uma reunião de pessoas que tem a finalidade de comungar suas crenças, de rezar. Ele não replicou. Fico chateado quando vejo sobrados e vilas destruídos, para dar lugar a prédios de ...

Natal

Não tínhamos muito interesse pelo Ano Novo, festejávamos mais o Natal; para nós havia razões para seguir o que os padres e pastores pregavam. Mas as coisas foram mudando, aos poucos, em pequenas doses, em um tempo que não está tão longe. Não sei porque as Igrejas não conseguiam manter as pessoas no âmbito das religiões. Não tem nada a ver com progresso, “isso não é progresso, isso é tentação do diabo” assim dizia seu João da bodega. E seu João apontava para pintura de Cristo crucificado, pendurada na prateleira dizendo para seus fregueses que bebiam cachaça com raiz de catuaba: “este homem nos salvou” e todos, concordavam e, por respeito, tiravam os chapéus das cabeças. Íamos para as igrejas católica e Batista, porque a família, àquela altura, estava dividida(não era uma divisão exata, havia mais parentes na Igreja Católica) pois tínhamos avós nas duas religiões. Chamavam os protestantes de “bodes”, muito antes do “politicamente correto”. Em um dos livros do Jorge Amado, não me lembr...