Rua Dezesseis

A Rua Dezesseis, em São Gonçalo/PB era, com efeito, famosa nas décadas de sessenta/setenta. Era bonita, casas térreas padronizadas para funcionários do governo, com muitas árvores, em maior parte de fícus frondosos, jardins, pavimentada de paralelepípedos e postes com luz plantados no meio da rua. Lá moravam agrônomos, técnicos, veterinários e funcionários graduados do DENOCS, que trabalhavam em experiências agrícolas, na manutenção, orientação aos rendeiros e fiscalização da chamada “Bacia do Açude de São Gonçalo”.

Quando ia à casa de meu avô materno, que ficava à margem da represa, via fiscais passarem em canoas motorizadas em direção a nascente do Rio Piranhas, que deu origem ao açude ou represa de São Gonçalo.

Sou de São João do Rio do Peixe/PB, porém fui criado em Marizópolis e, devido a proximidade, sempre havia motivos para ir a São Gonçalo. No Carnaval íamos aos bailes do Catete, local onde também ainda há um bom restaurante e o melhor tucunaré frito que fazem na região.

Havia um cinema em São Gonçalo, o que nos fazia habitualmente lotar um Jeep(táxi da época) em Marizópolis e rumávamos para São Gonçalo para ver filmes e seriados que estavam em cartaz. Sem contar os picnics que fazíamos sob as mangueiras e os eucaliptos de folhas perfumadas.

Em uma travessa da rua Dezesseis, em frente à mercearia de Antônio Genésio, como era conhecida, havia uma padaria cujo dono do estabelecimento era conhecido como "padeiro". Meu pai e eu vínhamos do Sítio Carnaúba, Município de São João do Rio do Peixe(na época, Antenor Navarro) a cavalo; parávamos, apeávamos o animal, entrávamos na padaria para comprar pão. O “padeiro” sempre me dava um pão doce, com aquele cheiro de pão bem assado.

Anos mais tarde, trabalharia na referida mercearia, por muito tempo, um gerente que era meu primo, solteiro, dormia no local, no qual havia um pequeno quarto e uma cozinha improvisada. Ele comprava pães na padaria de “padeiro” e comia todo santo dia os pães com quatro ovos fritos, no café da manhã!

O primo ao qual me refiro, conta que alguns fregueses da famosa Rua Dezesseis, recebiam amigos residentes nas capitais: João Pessoa, Recife, Fortaleza, etc., e, para impressionar os visitantes, iam à mercearia e compravam produtos caros que não eram de seus hábitos nem de suas posses financeiras consumir. Quando os visitantes voltavam para suas cidades, os fregueses devolviam os produtos que sobravam em suas despensas, e pediam para deduzir os valores de suas contas-correntes*.

*{Era hábito naquela época haver nos estabelecimentos comerciais, um livro de contas-correntes(mais comum era a “agenda paulista” ou um caderno adaptado para esse fim) que registrava as compras dos fregueses durante o mês; no início do mês seguinte essas contas eram liquidadas(quando as preces do comerciante eram atendidas!). Quando não saldadas, os débitos passavam para o mês seguinte}.

AlinsS, 24/09/2025

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