“A Península”
“A Península”
Aquela extensão de terra que nós chamávamos de ilha, ainda que cercada de água por três faces, na represa de São Gonçalo/PB, é na realidade uma península; faz parte de um arrendamento que meu pai tinha há muitos anos e que hoje é de um de meus irmãos. A parte que, digamos assim, é ligada ao “continente” é cercada, e com porteira, e comunica com as terras de outro rendeiro, fato este que quando trazíamos o gado diariamente para o curral, tínhamos que transitar pelo arrendamento vizinho usando-nos de um acordo tácito que às vezes era questionado.
A terra da península é elevada, comparado ao arrendamento principal, e no centro, como se fosse um mastro com uma bandeira, havia uma árvore frondosa que, se me lembro bem, era um juazeiro.
Eu sentia, quando adolescente, grande encanto por aquela pequena extensão de terra e não atentava para o aspecto geográfico de ser uma ilha ou uma península.
Havia plantações de milho, algodão e feijão, etc, no período das chuvas. As vacas leiteiras, bois e bezerros pastavam lá em certo período do ano, numa reserva de capim poupada. Ás vezes meus irmãos e eu, atravessávamos a nado o braço mais estreito que margeia a península, nus como viemos ao mundo, não calculando o perigo das piranhas.
Para atiçar ainda mais meu interesse há uma espécie de caverna em umas pedras à beira d´água que também serve de abrigo à noite para os pescadores de pirarucu e também como proteção das chuvas. Os pescadores deixavam restos de lenha queimada, carvão, cinzas, vestígio de pó de café, espinhas de peixe, etc. Do lado estreito que atravessávamos nadando ou no lombo de cavalos, há outra pedra quase toda imersa na água e uma pequena parte para fora, como se fosse um pequeno “iceberg” onde os cascudos ainda devem comer o lodo que a reveste.
Contei muitas estórias ao vento enquanto andava, subia em pedras, fazia discursos improvisados, recitava poesias decoradas e que eu declamara na escola; depois de tudo isto sentia-me envergonhado, como se alguém estivesse ali escondido ouvindo e que “postaria” no meio de comunicação mais eficiente da Vila de Marizópolis/PB, naqueles anos iniciais da década de sessenta, que eram as reuniões à noite nas calçadas, esperando as bênçãos do “vento Aracatí”.
A.Lins.S.
23/05/2025
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