A "Louca".

Ela fazia as refeições com os donos da casa, dos quais era amiga de longa data, conversava sobre sua família, ria de coisas toscas, mostrando sua obturação de ouro em um dos dentes superiores.

Inteligente, nunca estudara em escola formal, tudo que sabia era soletrar algumas palavras e escrever poucas; aprendendo com os outros, devagar, numa vida experiente, observada e de certa forma bem vivida.

Após as refeições ela recolhia os pratos, talheres e punha todos sobre a pia da cozinha. Antes de começar a lavar erguia as mãos ao céu e agradecia a Deus por ter se alimentado mais um dia, e terminava se benzendo.

Diziam-na louca, porém a convivência de alguns dias com ela, em muitas oportunidades, tinha-se a nítida impressão que ela era lúcida. Diziam que ela não mais gostava de marido, do qual tivera quatro filhos. Como perdera o interesse sexual pelo marido, procurava relacionamentos rápidos e comportava-se como desajustada, falando coisas desconexas; tudo para disfarçar seus desvios de conduta.

Ainda conservava belos traços, que foram mais acentuados quando jovem. De tez morena clara, cabelos pretos, sempre bem penteados. Tinha em torno de cinqüenta anos, de olhar demorado, sensual, que cativava os mais displicentes dos homens.

Na casa onde passava dias, semanas, tinha relacionamento com um rapaz novo, nunca descoberto; por conta de muitos cuidados dos dois.

Quando ela demorava a voltar para casa,  os filhos, o marido, de vez em quando iam buscá-la.

 

 

 

 

 

 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Prévia

Natal

O Louco