Chagas Braga, o Santista

Chagas Braga, o Santista
Meu primo em primeiro grau filho de tia Raimunda, irmã de meu pai. Ele tinha 50% Braga e 50% Simão de Sá; em suma era o que compunha sua genealogia mais próxima.
Quero falar só das boas coisas, das boas horas, das coisas que vivenciamos. Os primos são os nossos primeiros amigos, e os primos mais velhos, nossos heróis; nossa diferença de idade era de 7 anos; ele mais velho; ele um rapaz, eu um adolescente.
Chagas Braga, creio eu que foi o primeiro santista de Marizópolis, quando quase não havia torcida de times. Era um santista aqui, um flamenguista acolá; talvez algum vascaíno ou seria no futuro o seu irmão Toinho?
O Santos tinha o Pelé, o nosso rei; sou corintiano mas aceito-o como rei. Mas quem espalhou a paixão pelo Santos, que eu sei, foi Chagas Braga. Era comum ele nos convidar para ouvir os jogos do Santos, pelo rádio.
Aí apareciam Zé Malandro, Camilinho, Zé de Dodó, Antonio Gomes, Manoelzinho Araújo, e muitos dos componentes do time que se formava nas terras virgens da Rua das Queimadas. Não todos estes de uma só vez, mas de uma forma ou de outra, Chagas Braga sempre convencia alguém para fazer-lhe companhia, para discutir os melhores lances, os lances duvidosos, o penalty que não covencia.
Quantas vezes fomos pular carnaval no Catete, em São Gonçalo, rolar pelo chão sob os efeitos do lança perfume Colombina, quando nem sonhávamos que um dia fosse proibido inalar. No bolso traseiro da calça uma Colombina de embalagem bronzeada ou prata e um lenço, era o grito de nossa independência, de nossa liberdade, era o essencial para o carnaval.
Bebemos cachaça com tira-gosto de caju, de lambú assada com farinha ou mesmo com limão. E os assuntos eram as meninas que conhecíamos, que amávamos, que nos apaixonávamos. Afinal, para acalentar os sofrimentos de uma paixão nada como uma cachaça, que tem a força da cobra que matou Cleópatra ou do veneno que matou Romeu e Julieta.
Depois de muito tempo, já havia saído de Marizópolis, para morar em Recife e finalmente em São Paulo, nos muitos retornos que fiz à vila e à cidade, muitas vezes de manhã bem cedo, antes do raiar do sol, sempre que descia do ônibus, lá estava ele, o madrugador, o andarilho, que abria um largo sorriso que esticava o bigode de canto a canto. Era Chagas Braga, meu primo.


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