Maria
Maria
Ela
dizia assim que eu entrava: oi paraíba, tudo bem? Somos do mesmo
Estado, a Paraíba; ela de Patos(de Espinhara) e eu de São João do
Rio do Peixe. Eu respondia rindo, pelo modo como ela me tratava, e
era um maneira carinhosa que ela encontrava para agradar seu
conterrâneo-cliente: tudo bem e você Maria? Ela respondia que
estava tudo bem, sempre estava tudo bem pra ela. Era uma pessoa que
trabalhava muito naquela padaria, a maior parte do tempo no caixa e
tomava conta de tudo, sabia tudo, era de confiança do patrão. Ela
contava coisas de Patos, as viagens que fazia pra visitar a família,
do calor que faz na cidade, etc. Quando a mãe dela faleceu ela parou
de viajar pra lá, disse que não era a mesma coisa sem sua mãe.
Trabalhava desde os 15 anos na padaria, deve ter sido seu
primeiro emprego. Estava com 39 anos naquele fatídico dia de outubro
de 2019, que pôs termo à sua jovem vida. Foi em um acidente de
automóvel na Av. Francisco Morato, uma avenida muito movimentada em
São Paulo, para quem não conhece, no bairro Butantã. Não vou
entrar em detalhes do acidente, tampouco o que o causou; mesmo porque
não os tenho e nem me interessa saber. Quero só dizer algumas
coisas da Maria, que era casada, menos de um metro e setenta de
altura, branca, de olhos claros, de corpo bem feito e bonita. Ela me
cativava pela simplicidade, pela sua dedicação ao trabalho. Não
tinha filhos. Certo dia eu cheguei a padaria e ela estava ajudando
uma criança de uns oito anos ou talvez menos, a fazer a lição. Eu
estava com pouco tempo, não perguntei da criança, pensei que fosse
filho dela; não, era sobrinho. Fiquei sabendo na semana seguinte,
quando passei lá para tomar um café, comer com uma broa de milho,
antes de ir à prefeitura de Cotia. A maior parte das vezes que
passava na padaria era quando ia à prefeitura. Ela me perguntava:
está trabalhando paraíba? Eu respondia que sim. A pergunta dela
fazia sentido, já que eu lhe informara, em conversas anteriores, que
era aposentado. Embora aposentado, naquela época eu tinha um
escritório de contabilidade e ia tratar de assuntos de meus clientes
naquela repartição, e ela sabia disto. Lembro que passei umas duas
vezes na padaria depois de outubro de 2019, mas não perguntei por
ela, achava que ela poderia estar em algum outro lugar dentro da
padaria, ou em dia de folga. Esta semana de fevereiro, dia 13, fui ao
banco no centro de Cotia. Depois do banco fui à padaria e pedi o de
sempre a um balconista: uma broa de milho e um capuccino. Perguntei
ao rapaz: e a Maria está de férias? Ele respondeu: a Maria faleceu
faz uns cinco(na realidade quatro) meses. Foi uma paulada em minha
cabeça, daquelas de deixar qualquer um tonto, desnorteado. Não me
conformei. Perguntei o que acontecera. Ele disse: um acidente de
automóvel na Francisco Morato, saiu para atender outro cliente e não
me deu mais detalhes. Fui pagar a conta no caixa, lugar que a Maria
passava maior parte do tempo. Perguntei da Maria mas já antecipando
o que sabia e que a conhecia há muitos anos, pelo menos uns vinte
anos. A moça deu-me mais detalhes, porém não muito, havia uma fila
atrás de mim. Ela disse: não deixe de vir aqui na padaria. Eu
disse: sim. Agradeci e saí não sei como.
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