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Um dedo mindinho de conversa

Há trinta anos a "estradinha" que usamos para acessar a Rodovia Raposo Tavares, quando mudamos para esta região, era esburacada, não havia casas residenciais e os prédios eram de uma padaria, de um supermercado e de uma loja de material de construção. Havia muitos eucaliptos, pinheiros e algumas árvores da Mata Atlântica. De ambos os lados da estradinha víamos cavalos e bois pastando; e era um bom pasto alimentando animais muito bonitos. Não havia iluminação adequada, um poste aqui outro acolá com lâmpadas que não iluminavam direito. Eram glebas, originadas de uma fazenda, que estavam sendo exploradas e vendidas pelos herdeiros. As pinhas se espalhavam pelo chão e na época do Natal as catávamos para enfeitar nossa árvore e fazer arranjos e guirlandas. Ainda restam alguns pinheiros que produzem pinhas, que além dos usos que fazemos no Natal, também ajudam muito na hora de acender a churrasqueira e a lareira(no inverno). (As folhas dos eucaliptos não têm o perfume daqueles que ...

Em algum lugar, com um celular

Em algum lugar, com um celular   Pois a mulher estava olhando a tela do celular, no meio da rua, parada sobre umas faixas zebradas, cercadas por “tartarugas”; aqueles objetos amarelos, com placas refletoras, fixados ao asfalto, sinalizadores de trânsito, que os motoristas reclamam quando passam por cima delas, por causarem desbalanceamento das rodas podendo até fazer avarias nos pneus e também afetar a suspensão dos carros. Ela vestia um roupão, cor-de-rosa-claro, amarrado à cintura por um cinto do mesmo tecido, por cima de uma blusa e da calça comprida, que descia até o meio das panturrilhas; calçava sapatos pretos de salto alto e por vezes girava a perna usando um dos saltos. Ela era alta, loira, cabelos (aparentemente) pintados que desciam até os ombros, bem penteados, porém não dava para ver seu rosto porque ela estava quase de costas para o observador. Ela passava sobre a tela do aparelho o dedo indicador da mão direita enquanto que com a mão esquerda o segurava. E a mulher co...
  Resposta ao meu irmão, um autodidata, importante intelectual, que já leu muito mais do eu e do que muita gente, que agora está lendo “O Capital” de Carl Max. … ........................................................................................................... Tenho uma coleção dos economistas que foi publicada pela Editora Abril há alguns anos. Nessa coleção tem “O Capital” em dois ou três volumes. Nunca li “O Capital”. Li Marshal, Celso Furtado, Adam Smith, etc. Mas Marx nunca li. Já li alguns trabalhos sobre Marx de alguns economistas brasileiros. Veja, é uma posição muito pessoal: eu não acho o Marx atualizado para os dias de hoje. Tenho medo de começar a ler e me desmotivar pelo fato de ele não ser atual. Muitos historiadores são marxistas, analisam a história sobre esse ponto de vista, como o inglês Hobsbawn, porque as universidades ainda carregam essa coisa de analisar a história do ponto de vista marxista. Acho meio saudosista, e o saudosismo não leva a nada...

Férias em Porto Seguro

Férias em Porto Seguro. Os raios solares tentavam perfurar as nuvens insistentemente, como se teimassem com a nossa importante estrela da Via Láctea, porém as nuvens tornavam-se mais densas e escuras. As jovens prontas, vestiam biquínis e outras maiôs de corpo inteiro, agitavam-se impacientes. Afinal estavam em férias, pagaram passagem e hotel com suas economias, com seus exigentes trabalhos. Os jovens tinham uma alternativa para driblar a falta do sol: andar pela cidade, entrar em um restaurante beber e saborear as iguarias da culinária local. Porto Seguro, berço de nascimento do Brasil, oferece alternativas e o mar continuará lá, imponente, para os próximos dias. Porém, as moças foram para aquela bela cidade para oferecer seus corpos ao sol e ter de volta, como prêmio, o corpo bronzeado, de forma que, quando voltassem para os escritórios em São Paulo, vestiriam roupas leves e decotadas para exibirem seus bronzeados. Para elas o sol estaria sempre presente naquela região e nun...

Meninice

Em minha meninice, a despeito de protestos, principalmente de minha mãe, eu aprendi e também meus irmãos e amigos, muita sacanagem e coisas boas com os chamados, naqueles anos cinquenta, de “moleques” de rua. Não eram os conceitos e definições aplicadas hoje em dia, eram meninos e meninas que tinham casas, pais, mas que brincavam na rua. Jogávamos futebol com bolas de meia e conseqüentes ferimentos nos dedos; brincávamos em montes de areia de construções e chegávamos em casa com a cabeça “que era areia só"; de passar o anel e adivinhar com quem ele estava, e aqui as meninas participavam e deixávamos o anel com aquelas que mais gostávamos(com um devido e discreto piscar de olho), tomávamos banho na chuva, inclusive as meninas de vestidos molhados, revelando suas belezas. Fazíamos competições de punhetas, para quem gozava e jogava a gala mais longe. Estávamos na puberdade, as meninas acabavam sabendo dessa competição, e nos olhavam com olhares enviesados, dissimulados, como Capitú ...

Sonho

 Era uma pequena sala, com o jeito de um ambiente escolar; para dar crença a esta narrativa, aparecia uma professora do meu curso primário, do Grupo Escolar Dr. Silva Mariz. (Logo aquela escola que era tão simples e tão bonita, com salas arejadas, cheias de carteiras pretas, com bancos compartilhados, locais para caneta-tinteiro, local para colocar nossos livros, lousa ampla, onde sempre sobrava escrito em giz do dia anterior, ou vestígios de palavras e frases que, com um pouco de esforço, dava para subentendermos e desvendarmos os significados). Ela mostrava em uma estante uns livros muito bem encadernados, com lombadas verde-escuras, trabalho em capas duras. Aparentemente queria encomendar outras encadernações de outros livros. Naquele instante aparece o ex-presidente Obama, sem quê nem pra quê. Ele olha e pega um dos livros, elogia a encadernação e diz que que é "um trabalho artístico, bonito e caro". E foi só isto, um sonho onde sempre cabe o impossível e onde tudo é poss...

Elaine

  Um dia, não muito distante de hoje, você  disse: “vamos nos encontrar e almoçar juntos, em algum lugar na Paulista, como já fizéramos antes” e eu disse: vamos. Ela disse “porque você é o meu tutor, você é o cara.” Eu havia ajudado-a, a defendê-la para ocupar uma posição no departamento financeiro de uma grande empresa. E ela fez sucesso pelo seu trabalho, sua competência, sua inteligência; não havia nada de mais apenas coloquei sua cabeça numa bandeja, como pediu Salomé. Sabe quando você aposta em uma pessoa? Quando você vê e diz esta é a pessoa certa. Foi o que aconteceu. Ela era a pessoa certa: humana, competente, mãe, e mais tarde avó apaixonada. Eu via na foto a   cara do neto olhando pra ela, apaixonado; porque era fácil se apaixonar pela Elaine. Sinto um vazio imenso em mim, por sua falta, sinto-me perdido no espaço; como um astronauta que estava preso por um fio a nave e por fim desprende-se e perde-se no vazio do espaço.