O fusca de meu pai.

O fusca de meu pai

Meu pai teve dois Jeeps: um 1953; outro, 1962. Eu gostava do Jeep 1953. Era muito bonito, lembrava os filmes de guerra(lembro de uma foto do General McArthur sentado em um desses Jeeps, fumando um cachimbo de piteira longa); naquela época falava-se muito na guerra, terminada em 1945, no entanto, os efeitos dela ainda permaneciam; a fumaça ainda não tinha sido totalmente dissipada.

Meu pai aprendera a dirigir na estrada, quando tinha o Jeep 1962; antes, no Jeep 1953, tinha um motorista que não trabalhava em tempo integral, só quando meu pai precisava ir à alguma cidade ou para comprar bois de corte, o pagava para conduzir o veículo.

Fui morar em Recife e meu pai nessa época comprara um fusca que, neste momento, não lembro o ano. Ele gostava demais do carro e dirigia na estrada, que é muito movimentada, com grandes caminhões, etc. A estrada que me refiro vai de João Pessoa (Município de Cabedelo) até a Transamazônica, é a BR-230.

Toda vez que eu ia visitar minha família, no Sertão da Paraíba, já morando em São Paulo, dirigia o fusca para cidades próximas, sempre junto ao meu pai. Enquanto dirigia, prestava atenção no carro, no funcionamento do motor, freios, embreagem, etc. Ele ia tratar dos negócios dele e eu ia para oficina fazer verificações e reparos. Ele dizia que não havia necessidade de fazer manutenção, mas era implicância.

Feito tudo, retirava o carro da oficina e ia encontrar meu pai para pegarmos a estrada de volta para a casa. No meio do trajeto, de menos de vinte quilômetros, meu pai pedia para parar em um bar para bebermos conhaque com limão e raízes. O conhaque era São João da Barra, bebíamos duas doses, numa época que não havia a Lei Seca. Ele queria voltar dirigindo, porém eu não deixava. Ele dizia: “você não confia em mim?” Eu respondia mentindo que confiava, mas ouvia algumas histórias de “barberagem” que ele cometia pilotando, que me preocupavam.

Certa vez ele estava dirigindo o carro, na estrada, porque ia fazer o teste no Detran da região. Foi parado por um guarda rodoviário, o qual pediu os documentos e a carteira de habilitação. Disse ao guarda que estava treinando para fazer o exame de habilitação. O guarda disse: “o senhor está treinando na estrada?” Aí ele respondeu: “este é o lugar correto de treinar, porque para todo lugar que eu for tenho que usar esta estrada.” O guarda disse: “então o senhor deveria treinar no aeroporto de Sousa, ou em uma auto escola, que é assim que todos fazem.” O guarda deu-lhe umas broncas enfatizando que ele podia morrer em um acidente. O aeroporto ficava a cerca de quinze quilômetros de onde eles estavam. Meu pai disse: “é longe.” Bom, não lembro se o guarda o multou, mas ameaçou prender o carro. Na época as Leis de trânsito não eram tão rígidas. Isto foi início da década de setenta.

Certa vez fomos juntos para a cidade de Cajazeiras, era um sábado, dia de feira. Nessa época já se exigia o uso do cinto de segurança nas estradas e meu pai já tinha a CNH. Entrei, sentei no banco do carona, ele disse:”ponha o cinto de segurança.” Eu puxei o cinto e não vi a peça para prendê-lo. Eu disse: “cadê a peça para afivelar o cinto?” Ele disse que tinha quebrado. Eu disse: “e a do seu cinto?” Ele disse: “também, mas faz o seguinte: coloque o cinto como se estivesse preso, só para passar em frente a guarita dos guardas rodoviários, disse ele!!” Eu só tinha que rir !


Antonio Lins

06-05-2024

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